Título: Assessor diz que Kerry não é, e nem será protecionista
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Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2004, Meio Ambiente, p. A-11

Candidato nunca votou contra acordos comerciais em 20 anos. O assessor econômico do senador John Kerry, Alan Binder, tentou ontem acalmar os temores de que o candidato presidencial democrata possa ser obrigado pela retórica de sua campanha a adotar políticas comerciais "protecionistas", se eleito. Professor de Princeton, Blinder, disse que os 20 anos da carreira de Kerry no Senado americano mostram que ele nunca votou contra um acordo comercial. Os recentes ataques do senador contra empresas que substituem os trabalhadores americanos por trabalhadores no exterior não diminui sua fama, disse.

"John Kerry é acusado freqüentemente - e principalmente por alguns dos meus colegas da área de economia - de pelo menos fazer ruídos de protecionista", disse Blinder em um debate organizado pelo Conselho para as Relações Internacionais. "Agora, fazer ruídos é uma coisa. Mas se você prestar atenção no que ele fala de fato, não há nada de realmente protecionista".

Blinder debateu com Lawrence Lindsey, ex-chefe da equipe de assessores econômicos do presidente George W. Bush, o qual disse que a questão fundamental para os responsáveis pela política econômica nos próximos quatro anos será "como tratar a globalização". Lindsey e Nancy Roman, representante do conselho que foi a moderadora do debate, argumentaram que Kerry terá sérias dificuldades para expandir o livre comércio por causa de sua retórica de campanha.

"O senador Kerry não só disse que reveria todos os acordos comerciais", disse Lindsey. "Ele também afirmou que votaria contra o Acordo de Livre Comércio para a América do Norte (Nafta), se fosse apresentado hoje. Afirmou ainda que a política em relação à China é aberta demais. Estas afirmações talvez não passassem de palavras vazias - e esperemos que ele não tenha a oportunidade de torná-las algo mais do que isso - mas ainda acho que é um programa bem protecionista".

Blinder, ex-vice-"chairman" do Federal Reserve, que também assessorou a campanha de Gore em 2000, disse que a política comercial de Kerry provavelmente difere muito da do último presidente democrata, Bill Clinton. "Muitas pessoas achavam que Bill Clinton tinha um discurso protecionista na campanha de 1992 contra George Bush pai", disse Blinder. "Ele se revelou o maior promotor do comércio que tivemos neste país em uma geração ou mais. Acho que chega mais perto do modelo que provavelmente veríamos em um governo Kerry do que de um modelo protecionista".

Blinder disse que o Partido Democrata costuma ser menos entusiasta em relação ao livre comércio do que o Partido Republicano, o que torna difícil para qualquer presidente conseguir do Congresso a autoridade para negociar acordos comerciais. "Lamentavelmente, para mim, do ponto de vista do partido, há mais defensores destes acordos comerciais entre Republicanos que entre Democratas", disse. "É preciso juntar um número suficiente de ambos para conseguir isto".

Ao contrário de Bill Clinton, o presidente Bush conseguiu a autoridade - mas Blinder argumentou que Bush fez muito pouco com ela. "No âmbito desta autoridade foram concluídos acordos comerciais com 12 pequenos países, o que eqüivale a 7% das exportações dos Estados Unidos", observou. Ele disse que a Comissão do Comércio Internacional dos EUA caracterizou os benefícios econômicos destes pactos como "negligenciáveis" para a nação como um todo.