Título: Fazer negócios na região é complicado
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Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2004, Internacional, p. A-12

Estudo do Banco Mundial aponta que só a África tem ambiente similar. Chile é a exceção. A América Latina e a África têm o ambiente de negócios mais complicado do mundo, disse Michael Klein, economista-chefe da Corporação Financeira Internacional, o departamento do Banco Mundial que presta apoio ao setor privado. Esse quadro decorre do fato de os empresários dessas regiões enfrentarem regulamentos arbitrários, tribunais incompetentes e incerteza governamental.

O Chile é uma exceção, segundo François Bourguignon, economista-chefe da instituição. As afirmações ocorreram na divulgação do "Relatório de Desenvolvimento Mundial", elaborado pela corporação e que é sua principal contribuição para a análise dos motivos da pobreza e o que ser feito para combatê-la.

A América Latina tem 223 milhões de pobres, entre eles 105 milhões de indigentes, cifras que refletem um retrocesso na luta contra a pobreza e a desigualdade a níveis inaceitáveis, disse ontem José Luis Machinea, secretário-executivo da Comissão Econômica para América Latina (Cepal). "Neste campo não só não houve avanços, mas houve retrocessos."

Machinea acrescentou que a América Latina continua há anos nos primeiros lugares como a região mais desigual do mundo. Segundo ele, embora seja alentador que em 2004 a maioria dos países latino-americanos registrarão taxas positivas de crescimento, esta é uma situação insuficiente devido aos padrões de desenvolvimento econômico, que geram tendências de distribuição desfavoráveis.

Na década de 90, o Banco Mundial apontava a estabilidade macroeconômica, as privatizações e a liberalização da economia como a saída para o desenvolvimento, mas a experiência da América Latina levou a instituição a rever seus conceitos. A maioria dos países da região adotou essa política sem conseguir reduzir a pobreza.

Klein reconheceu que o exemplo da Argentina, que em 2001 sofreu a maior crise de sua história recente, demonstra "que não se prestou suficiente atenção, incluídos nós, às reformas microeconômicas", ou seja, as que afetam o empresário no dia-a-dia.

O relatório do banco é uma tentativa de corrigir esse erro, com uma análise minuciosa do ambiente de investimento nas nações em desenvolvimento. O retrato que expõe é o de algumas empresas, especialmente as pequenas, empenhadas em uma corrida de obstáculos desnecessários que lhes impedem de se expandir e de criar empregos.

O documento coloca a maior parte da culpa no estado, tanto por ação - por exigir inúmeros trâmites burocráticos -, como por omissão, por causa das deficiências no combate ao crime e à corrupção, por exemplo. A maior preocupação do setor privado em países em desenvolvimento é a incerteza sobre a política do governo, segundo pesquisas com 30 mil empresas em 53 países.