Título: Sem concessões, acordo da Argentina com credores será difícil
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Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2004, Internacional, p. A-12

A Argentina, que está para iniciar a maior restruturação de dívida soberana da história, provavelmente precisará fazer concessões até o último momento em sua oferta para conseguir a aceitação dos credores, entre eles 450 mil imprevisíveis investidores italianos. A Argentina deve propor formalmente em outubro pagar parte de sua dívida em moratória de US$ 100 bilhões, assim que o órgão regulador do mercado acionário norte-americano, a Securities and Exchange Comission, dê sua aprovação técnica.

Mas a troca se transformou em um jogo de adivinhações, afirmam analistas de Wall Street. Centenas de milhares de credores podem rejeitar a oferta atual, que os analistas e detentores de bônus afirmam corresponde entre 23 a 25 centavos por cada dólar investido. A Argentina poderia fazer pequenas mudanças na oferta que, aplicadas em conjunto, levariam a oferta para acima de 30 centavos por dólar - mesmo nível dos títulos argentinos no mercado secundário - e obter sucesso na reestruturação.

"Grupos de credores, como nós, sentem que é improvável que, da forma como estão as coisas, a oferta do governo obtenha sucesso, disse à Hans Humes, co-diretor do Comitê Global de Detentores de Bônus da Argentina (GCAB, na sigla em inglês). "Mas podemos ser muito criativos para aproveitar o que o governo colocar sobre a mesa(...) Podemos dar soluções", afirmou Humes, cujo grupo representa 37 bilhões de dólares da dívida em moratória.

Nesse jogo, os credores e analistas de Wall Street acreditam que a oferta atual poderia interessar mais de 50 por cento dos detentores de bônus. Se conseguir superar a meta de 80%, o governo poderia retornar ao mercado de capitais e conseguir taxas de juros razoáveis que ajudem a financiar o crescimento, à medida que a economia se recupera do colapso sofrido em 2002. Mas se a adesão for de 50%, o país entraria em uma crise judicial sem possibilidades de operar no mercado de capitais e nem de receber ajuda do FMI. Segundo Humes, 50% de aceitação poderia "criar o caos".