Título: CPFL começa hoje no Novo Mercado
Autor: Lucia Rebouças
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Ações da empresa, com alto padrão de governança corporativa, serão negociadas na Bovespa. As ações ordinárias da CPFL Energia estréiam hoje no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). As ações serão cotadas unitariamente, mas os negócios serão realizados em lote-padrão de 100 unidades. Seu nome de pregão será CPFL Energia e o código de bolsa CPFE3. Para saudar sua chegada, a Bovespa preparou para hoje uma recepção digna da importância da empresa, que realizou uma das maiores operações de captação de recursos no mercado de capitais deste ano.

Até ontem, de acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os resultados da operação de oferta pública de ações realizada pela empresa, que terminou dia 24 último, ainda estavam sendo analisados e computados.

Se tiverem sido vendidas pelo preço máximo de R$ 20,00, as 39,579 milhões de ações de emissão primária, que fazem parte da operação, a empresa terá captadoR$ 791,6 milhões. O cálculo não incluiu a parcela em American Depositary Shares (ADS) e ainda um volume de 7,91 milhões de emissão secundária, que também fizeram parte da operação.

No Brasil, a faixa de preço da oferta era de R$ 17 a R$ 20. No mercado norte-americano, entre US$ 18,00 a US$ 19,90. Houve uma modificação dos preços do ADS para balizar os preços em dólares com os fechados em reais. Cada ADS conterá três ações e será negociado posteriormente na Bolsa de Nova York ( Nyse).

Os recursos vão financiar projetos de geração de energia e amortizar dívidas. O capital atual da companhia é de R$ 3,397 bilhões, referente a 411,869 milhões de ações ON.

A CPFL será a quarta empresa a integrar o Novo Mercado - segmento destinado à negociação de ações de empresas que se comprometem com a adoção das melhores práticas de governança corporativa. Já fazem parte do Novo Mercado, a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), que abriu o capital em fevereiro de 2002, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que entrou em 24 de abril do mesmo ano, e a Natura Cosméticos - desde 26 de maio.

Cotação elevada

Em comparação às outras grandes empresas do setor elétrico, a cotação da oferta, de acordo com analistas, está elevada em relação ao seu valor patrimonial. Segundo estudo da Técnica Assessoria de Mercado de Capitais e Empresarial, a cotação é mais de 2 vezes o valor patrimonial (VPA). A relação cotação-valor patrimonial da Eletropaulo é a segunda maior, com 1,44 vez, seguida por Cemig (1,35 vez).

O indicador pode tirar um pouco da atratividade do papel, mas tende a ser suplantado pela excelente governança corporativa exibida pela empresa. "O mercado tem demandado muito empresas com maior `disclosure`. Tanto assim, que o Índice de Governança Corporativa tem ficado acima do Ibovespa", afirma Carlos Viana Nunes, economista da Técnica.

Entre os pontos fortes da captação, o economista cita: abertura de capital realizada no Novo Mercado somente com ações ordinárias e direito de 100% para todos os acionistas em caso de alienação do controle ( Tag Along); área de atuação da companhia, concentrada no maior pólo industrial do país, que são as regiões Sul e Sudeste; 97% lastreada em moeda local, ou seja, sem exposição à variação cambial.

Além disso, a CPFL é uma das maiores empresas do setor, detendo cerca de 12,5% da distribuição total de energia e deverá chegar a cerca de 6% da geração nos próximos anos, avalia Nunes.

Novas usinas

Segundo analistas, o prazo médio de duração da dívida da empresa é de cinco, seis anos, que eles consideram apertado para uma empresa que atua no setor de infra-estrutura como o setor de energia. O prazo de maturação de um investimento neste setor é elevado (também de cinco, seis anos). Conforme o economista da Técnica, a relação entre dívida total e a geração operacional de fluxo de caixa (EBITDA) anualizado do primeiro trimestre de 2004 é de 4,3 vezes.

Nos próximos cinco anos, quando suas novas usinas entrarem em operação, a capacidade instalada da companhia vai aumentar de 812 MW para 1.990 MW. Isso colocará a CPFL entre as quatro maiores geradoras de energia elétrica privadas do Brasil. Em 2003, a CPFL ficou entre as três primeiras distribuidoras do país com um volume de 33.669 GWh, atendendo a 5,3 milhões de consumidores.