Título: Air Canada paga US$ 1,35 bi por...(Pág. A-11)
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/09/2004, Primeira Página, p. A-1

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é visto como uma das possibilidades. Na época do anúncio da intenção de compra dos aviões, a General Electric Capital (GECAS), havia assumido o compromisso de liberar uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para a Air Canada comprar os jatos.

O presidente da Embraer considerou "um passo atrás" a decisão da Air Canada de reduzir as encomendas feitas à Bombardier. No pedido original eram 45, mas a companhia decidiu confirmar apenas 30, sendo 15 do modelo de 50 assentos e 15 do CRJ200, de 50 lugares. As entregas terão início em novembro de 2005, quatro meses depois do modelo 190 receber o seu certificado de homologação. As encomendas da Air Canada, segundo Botelho, não alteram a programação de entregas da empresa para 2005, uma vez que esse contrato já estava em suas previsões.

A Embraer também aguarda para os próximos 30 a 60 dias uma definição sobre a situação da US Airways, uma de suas principais clientes, que enfrenta seu segundo pedido de concordata em menos de dois anos. A situação da US Airways pode ter sérios impactos nas operações da Embraer, que tem um contrato de US$ 2,1 bilhões com a companhia americana. O valor envolve uma encomenda de 85 jatos do modelo 170, dos quais 22 já foram entregues.

"Eu suspendi as entregas da US Airways porque não tínhamos mais garantias de que os aviões seriam pagos. Nenhum banco financia uma empresa em concordata", afirmou. A crise no mercado aeronáutico mundial reduziu a oferta de um dos mecanismos mais eficazes de financiamneto de aeronaves, que é o EETC (Enhanced Equipment Trust Certificate). É um mecanismo que funciona como se fossem operações de leasing alavancadas ou leasing combinado com benefícios fiscais. Em 2001, segundo o executivo, o volume de operações de EETC nos EUA para aviões foi acima de US$ 8,5 bilhões. Em 2002 esse número caiu para US$ 2,7 bilhões e este ano para menos de US$ 500 milhões. "Isso significa que os investidores estão avessos ao risco aeronáutico porque as linhas aéreas estão mal. O investidor não tem mais garantia de que, se comprar o papel, terá a dívida paga". Este é considerado um dos maiores entraves às operações da Embraer, segundo Botelho, uma vez que a empresa precisa de um mercado financeiro estabelecido para disponibilizar linhas de crédito aos seus clientes, O BNDES, segundo o executivo, continua sendo um grande apoiador da Embraer, mas sua capacidade de assumir os riscos aeronáuticos também é limitada. "As operações de apoio que o BNDES nos dá hoje acontecem na medida em que nós conseguimos transferir o risco da operação para outras entidades, tipo seguradoras".

Dos 22 aviões entregues à US Airways este ano, sete tiveram financiamento provisório, ou seja, foram incluídos no contas a receber da Embraer, com a cobrança de leasing do cliente, até que se consiga obter um empréstimo definitivo no mercado financeiro. Embora as entregas tenham sido suspensas, o executivo estima que até o final do ano a Embraer tenha finalizado a produção de mais quatro aviões para a US Airways, mas que não serão entregues. "Avião no pátio é suicídio. Podemos ter redução de mão de obra caso essa situação persista".

Além da US Airways, outras clientes da Embraer enfrentam dificuldades no mercado norte-americano, como a Delta e a United Airlines, que também está em concordata. A American Airlines, segunda maior cliente da Embraer, conseguiu fazer uma expressiva reestruturação de custos e livrar-se de uma concordata em 2003. A Northwest, maior empresa de baixo custo dos EUA, segundo Botelho, está indo bem, mas ainda precisa fazer adequação de custos. "Em 1993 as linhas aéreas de baixo custo e as regionais eram responsáveis por 15% do volume de passageiros transportado. Em 2003 elas passaram a ter mais que 35%", disse o presidente da Embraer. Atualmente, segundo ele, uma linha aérea tradicional transporta um passageiro ao custo aproximado de US$ 0,12 a US$ 0,14 por milha. Uma linha aérea de baixo custo faz o rabalho, com a mesma qualidade e segurança por cerca de US$ 0,6 a US$ 0,7.