Título: Governo russo se reúne hoje para discutir Quioto
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Fonte: Gazeta Mercantil, 30/09/2004, Meio Ambiente, p. A-9

O governo russo deverá pedir hoje aos legisladores para ratificar o Protocolo de Quioto, medida que colocará em vigor o acordo celebrado há sete anos para restringir as emissões de gases que contribuem para o aquecimento global.

O governo vai examinar um projeto de lei federal "sobre a ratificação do Protocolo de Quioto", segundo a pauta da reunião do gabinete de ontem, divulgada no site da internet. O apoio russo permitirá que o acordo consiga o nível de respaldo de 55% necessário para que entre em vigor.

Até agora, a Rússia tem hesitado sobre a aprovação do tratado. Autoridades como o assessor econômico presidencial Andrei Illarionov, argumenta que a redução das emissões de usinas siderúrgicas e de outras fábricas podem elevar os custos e desacelerar o crescimento. O presidente russo Vladimir Putin poderá agora apoiar o Protocolo de Quioto. na tentativa de conquistar respaldo para outras iniciativas como o ingresso na Organização Mundial do Comércio (OMC).

"O governo pode avançar com a questão do ingresso na OMC para tranqüilizar os investidores de que a Rússia ainda está comprometida com as reformas econômicas", disse Timothy Ash, economista da área de mercados emergentes da Bear Stearns, em Londres.

Os investidores retiraram US$ 5,5 bilhões da Rússia na primeiro semestre de 2004 depois que o governo prendeu, no ano passado, Mikhail Khodorkovsky, maior acionista da Yukos Oil, e adotou medidas para receber dívidas tributárias no valor de US$ 7,5 bilhões da companhia, maior exportadora de petróleo da Rússia. Executivos da Yukos disseram neste mês que essas indenizações podem levar a economia à falência.

As preocupações sobre a Rússia aprofundaram-se depois que Putin disse, há duas semanas, que vai tentar nomear os líderes regionais e conceder mais poder aos partidos políticos na escolha do Parlamento do país. O objetivo é ajudar os partidos a unirem a Rússia para combater o terrorismo, depois de quatro ataques dos separatistas chechenos, que em 10 dias mataram pelo menos 430 pessoas. O plano dará mais poder ao Kremlin.

"A Rússia poderia obter benefícios econômicos com o Protocolo de Quioto, a partir da venda de créditos de carbono para a União Européia, o Canadá e Japão", disse Chris Lambert, diretor do Westminster Policy Forum, empresa independente de consultoria em energia com sede em Londres. O país poderia negociar esses créditos entre 2008 e 2012, tendo como principais compradores empresas de geração de energia como a espanhola Endesa e a alemã RWE.