Título: CNA estima prejuízo de US$ 1 milhão por dia com veto da Rússia
Autor: Riomar Trindade
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/09/2004, Agribusiness, p. B-12

O embargo da Rússia à compra de carne bovina brasileira causa prejuízo diário ao País de US$ 1 milhão, segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira. A perda foi calculada com base nas exportações de carne bovina realizadas em agosto, que somaram US$ 243 milhões e o mercado russo respondeu por US$ 33 milhões do total.

"Esperamos que o impasse seja resolvido o mais rapidamente possível, pois do ponto de vista sanitário não há justificativa para a adoção da medida", disse Nogueira.

No mês passado, a Rússia se posicionou como o principal destino das vendas de carne bovina, ultrapassando mercados de tradicionais importadores, como Chile e Países Baixos, até então líderes do ranking entre os maiores consumidores do produto brasileiro. Nogueira ressaltou que o foco de febre aftosa no Amazonas - motivo alegado pela Rússia para suspender importações de carne bovina de todo o Brasil - fica em região isolada, sem representar risco de contágio para o rebanho localizado em regiões livres da doença e que fornecem carne para as exportações. Em agosto de 2003, as exportações de carne bovina totalizaram 93 mil toneladas, com receita de US$ 109 milhões.

Nogueira estima que as exportações do setor em 2004 deverão ultrapassar 1,6 milhão de toneladas, com faturamento de US$ 2 bilhões. Em 2003, as vendas de carne de gado ao mercado externo somaram 1,3 milhão de toneladas e US$ 1,5 bilhão. Nos primeiros oito meses deste ano, as exportações de carne já renderam US$ 1,556 bilhão, valor 78% superior aos US$ 875 milhões registrados em igual período de 2003. Em volume, as exportações de carne bovina somaram 1,147 milhões de toneladas entre janeiro e agosto, frente a 819 mil toneladas no mesmo período de 2003.

"Já ultrapassamos o total de faturamento do ano passado, embora sem ainda atingir o volume remetido em 2003. Isso ocorre porque os preços médios da tonelada exportada são superiores em 25% em relação ao ano passado." No mês passado, o preço médio pago pela carne bovina brasileira "in natura" foi de US$ 2.081 por tonelada, cerca de 10% a mais que o preço médio de US$ 1.891 por tonelada de agosto do ano passado. Uma das razões da melhora dos preços é o fato de o Brasil estar exportando mais cortes nobres, que são mais valorizados.

Segundo Nogueira, o embargo da Rússia não deverá provocar queda nos preços da arroba do boi gordo no mercado interno, porque o governo russo autorizou o embarque das compras efetuadas antes de adotar a medida. "Isso dará um fôlego aos exportadores. Mas é necessário que haja solução rápida, para evitar o acúmulo de estoques nos portos."

Pesquisa da CNA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) revela que nos primeiros oito meses os custos operacionais totais da pecuária de corte subiram 7,37%, enquanto o preço da arroba subiu só 1,2%. O sal mineral, insumo que representa 15% dos custos, subiu 10% no ano.