Título: Amcham e mercado externo
Autor: Sergio Haberfeld
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Opinião, p. A-3

Papel da Câmara de Comércio na negociação internacional. Que papel uma Câmara Internacional de Comércio deve ter no processo de influenciar positivamente as negociações internacionais? Pensando nisso, resolvi esclarecer pontos relativos à crescente participação da Câmara Americana de Comércio (Amcham) nas negociações da OMC, Alca e Mercosul/UE.

Primeiro devo deixar claro que a Amcham, estabelecida em 1919, é a segunda maior Câmara de Comércio do mundo e a maior entidade binacional da América Latina. Não tem fins lucrativos e atua independente dos governos brasileiro e americano. Com cerca de 5.700 empresas associadas, 70% nacionais e 30% multinacionais, temos legitimidade para manifestar opinião diante da demandas dos nossos membros. Com o papel de sedimentar a ponte e o diálogo entre o Brasil e os EUA, dedicamos muita atenção às negociações para a formação da Alca.

Não tenho notado muito entusiasmo por parte dos governos brasileiro e americano para a retomada das conversas paralisadas desde fevereiro por questões políticas. O que é natural, tendo em vista a estratégia de política externa do nosso país e a prioridade dos EUA com questões internas e com o combate ao terrorismo. Os diplomatas, responsáveis diretos pelo sucesso ou fracasso de um acordo comercial, não têm urgência em ver crescer a produção, o emprego, os fluxos de comércio. Sua função está pautada na definição de estratégia de longo prazo que garanta o crescimento sustentável em todas as esferas do país que eles representam.

O que me deixa pensativo em relação ao esforço que estamos fazendo para que o Brasil se insira de uma vez por todas na categoria de global trader é a imobilidade de algumas empresas e/ou setores em relação à questão. E, nesse caso, não estou falando só de Alca, mas de todas as negociações internacionais.

A pausa na Alca se configura como o momento certo para que o empresariado dos 34 países participantes se prepare, reveja posicionamentos, avalie os possíveis impactos para seus negócios e também passe a influenciar positivamente os negociadores do acordo que, se for bem feito, pode aumentar em até 24% nossas vendas externas anuais, 25% nossas exportações agrícolas e incrementar em 27% o fluxo de investimentos estrangeiros diretos para os países da região.

É função desta, e de todas as Câmaras de Comércio, batalhar no sentido de engajar o setor privado em discussões fundamentais para o crescimento do nosso país. Para isso, lidero um grupo de trabalho na Amcham que tem como objetivo elaborar documentos, educar a sociedade, promover reuniões com os setores público e privado, incluir empresários em missões políticas internacionais, organizar eventos sobre negociações internacionais por todo o País, entre outras atividades relacionadas.

O próximo round dessa luta acontecerá no dia 4 de outubro, quando os maiores especialistas em acordos comerciais estarão no seminário da Amcham "Negociações internacionais: o maior risco é não conhecer" debatendo temas polêmicos como o impasse da Alca, o recente avanço da OMC e a possível conclusão das negociações entre o Mercosul-UE. Nas complexas arenas de negociação, o nosso papel não pode ser o de espectador. A participação efetiva garante que os nossos interesses serão atendidos, o que faz parte da maturidade do processo democrático. O governo brasileiro, mais do que qualquer outro, está aberto às nossas sugestões e recomendações. É só correr atrás.

kicker: É preciso lutar para levar o setor privado ao debate sobre o crescimento do nosso país