Título: BC prevê 5,6% para o próximo ano
Autor: Luciana Otoni e Viviane Monteiro
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Nacional, p. A-6

A projeção de fechamento do IPCA em 2004 subiu para 7,2%, valor acima da meta de 5,5%. O ritmo de crescimento econômico se tornará mais lento e se sustentará mais pela recuperação da renda e das condições de trabalho do que pelo impulso da política monetária. A avaliação foi feita ontem pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Eduardo Loyo, durante a divulgação das novas estimativas para a inflação em 2004 e 2005 e do relatório trimestral de inflação. Para este ano, o Banco Central (BC) elevou a projeção de fechamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,4% para 7,2% acima, portanto, da meta central de 5,5% fixada anteriormente. Para o próximo ano, a projeção de inflação foi elevada de 4,4% para 5,6%, também superior à meta de 4,5% definida em junho pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

"É natural que o ritmo de crescimento se torne mais lento à medida que esse processo passa a se sustentar primordialmente nos seus mecanismos de realimentação. É natural e saudável que isso ocorra", disse Loyo. Ao revisar para cima as expectativas de comportamento dos preços para os próximos meses, o BC também considerou que eventuais choques que coloquem em risco a inflação exigirão uma resposta "menos tolerante" por parte do Comitê de Política Monetária (Copom). "Num momento em que o quadro de atividade é mais alentador fica maior a propensão a tentativas de recomposição de margens de lucro e por isso a política monetária precisa redobrar sua vigilância", disse.

A decisão de rever para cima as estimativas de inflação deveu-se a quatro fatores: aumento dos preços entre maio e julho - preços administrados como telefonia, transporte e energia elétrica e alimentos in natura -, reavaliação para cima da inflação prevista para os preços administrados - de 7,7% para 8,5% em 2004 e de 6% para 6,9% em 2005) -, piora das expectativas feitas pelos agentes privados e ritmo acelerado da retomada econômica simultaneamente à aceleração de utilização plena da capacidade instalada, situação relacionada a pressões inflacionárias.

Ao apontar os motivos que levaram a equipe econômica a fazer ajustes na política monetária e a perseguir um IPCA de 5,1% e não de 4,5% em 2005, Loyo refutou argumentos de que o BC estaria definindo metas de inflação ambiciosas. "Esse objetivo explícito de 5,1% para a inflação em 2005 não muda a meta central e não muda o intervalo de tolerância", disse. O intervalo de tolerância é de dois pontos percentuais para cima e para baixo a partir da meta central de 4,5%.

As novas projeções divulgadas ontem tiveram por referência a manutenção da taxa básica (Selic) em 16,25% ao ano e uma taxa de câmbio de R$ 2,90. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para 2004 foi projetada em 4,4%, com alta de 0,9 ponto percentual sobre a previsão anterior.

Na análise do cenário de curto prazo, o Banco Central listou quatro riscos que serão considerados na formulação da política de controle de preços: preço do petróleo no mercado internacional, velocidade da resposta da capacidade de produção ao ritmo de crescimento, expectativa do mercado frente a inflação e pressões dos preços industriais do atacado para o varejo.

A incerteza quanto ao comportamento futuro do preço do petróleo permanece. "Os preços continuam voláteis e é difícil discernir uma tendência de médio prazo", disse o diretor de Política Econômica. Loyo afirmou que, até o momento, o preço doméstico da gasolina vem sendo parcialmente compensado pelo fato de o preço internacional do combustível estar com uma defasagem atípica em relação aos preços internacionais do petróleo bruto.

Diante da preocupação manifestada pelo governo e pelo mercado quanto à velocidade de ampliação da capacidade instalada no atendimento à demanda interna e do crescimento das exportações, o BC apresentou ontem uma análise positiva do ritmo dos investimentos. Segundo Loyo, a intensidade e o ritmo dos investimentos em produção estão superiores frente aos movimentos observados em ciclos de crescimento anteriores.

Os setores que apresentam as mais altas taxas de utilização da capacidade instalada citados no relatório trimestral de inflação são celulose, papel e papelão (95,3%), borracha (93,6%), metalurgia (92,1%), têxtil (91%), perfumaria, sabão e detergentes (90,6%), madeira (86,5%) e produtos alimentares (85,2%).

Na avaliação do economista-chefe da consultoria Lopes Filho, Júlio Hegedus, o BC vai manter uma política monetária cautelosa, mesmo com uma projeção maior para a inflação de 2005. "O relatório sinaliza que a política monetária continua cautelosa", disse Hedegus. Para ele, a taxa básica de juros - atualmente em 16,25% ao ano - deve subir nos próximos meses, chegando a 16,75% no final do ano.

Hegedus avalia que o BC admite que há riscos de repiques de preços nos próximos meses, especialmente pelos efeitos de um provável reajuste nos preços dos combustíveis. Ele acredita que depois das eleições municipais, a Petrobras deve anunciar aumentos de preços.

kicker: Relatório sinaliza que a política monetária continua cautelosa