Título: Leilão de linhas tem deságio de 34,8%
Autor: Raymundo de Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Energia, p. A-7

Ministra Dilma Rousseff afirma que índice aponta para revisão dos futuros valores de referência. Com um deságio médio de 34,8%, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) leiloou ontem 11 lotes com 12 novas linhas de transmissão e seis subestações (2,86 mil quilômetros e investimento previsto de R$ 2,1 bilhões). A ministra de Minas e Energia (MME), Dilma Rousseff, afirmou que a grande diferença entre o valor máximo de receita anual definido pela Aneel e os lances feitos pelas empresas e consórcios vencedores dá margem para uma revisão nos valores de referência para os próximos leilões de transmissão. Segundo Dilma, nos dois últimos leilões de linhas de transmissão, o de ontem e de setembro do ano passado, houve deságios significativos e isto aumenta o refinamento entre os valores definidos pelo técnicos que planejam os leilões e os valores de mercado, apresentados pelos vencedores nos pregões. No leilão de setembro de 2003 o deságio médio foi de 36%. "Além do deságio médio, houve disputa acirrada entre os participantes", afirmou.

O diretor da Aneel, José Mário Abdo, disse que o deságio médio do leilão de ontem equivale ao custo de construção de 1,9 mil quilômetros de linhas de transmissão com tensão de 500 kV, ou à implantação de 5,1 mil quiômetros com tensão de 230 kV. Segundo ele, entre as principais causas da atratividade do segmento de transmissão está o baixo risco dos investimentos - contratos de 30 anos com taxa de remuração de 11% e correção anual pelo IGP-M - o que tem permitido o sucesso nos leilões de concessão.

Os maiores deságios no leilão de ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foram apresentados pela estatal Chesf para os trechos entre os municípios de Milagres e Tauá, ambos no Ceará (53,7%) e Milagres e Coremas, este último na Paraíba (52,81%). Segundo o diretor de operações da empresas, Mouzart Arnaud, a Chesf já opera linhas de transmissão entre os municípios e possui material em estoques, o que permitiu apresentar um valor inferior à metade do proposto pela Aneel.

A espanhola Elecnor, que levou o maior trecho leiloado ontem - 811 quilômetros com duas subestações entre Cuiabá (MT) e Itumbiara (MG) e receita anual de R$ 98,7 milhões - deu lance com deságio de 40%. Segundo o diretor da empresa, Jose Castellanos Ybarra, os ganhos em escala e a segurança no setor de transmissão foram os principais motivos para a oferta agressiva da empresa. Os trechos com menor deságio no leilão foram o das linhas entre as cidades paranaenses de Cascavel e Foz do Iguaçu (0,59%) e entre os municípios mineiros de Furnas e Pimenta (11,71%). Os dois estão entre as menores receitas anuais.

Segundo Cesar Luiz de Godoy Pereira, diretor da Alusa, única empresa a se habilitar para todos os trechos leiloados ontem e que lidera em participação o consórcio Sudeste de Minas com 41%, vencedor do trecho entre Itutinga e Juiz de Fora, ambos em Minas Gerais, os valores apresentados no leilão de ontem refletem o limite mínimo de remuneração para a construção e operação das linhas.

A expectativa anterior ao leilão de ontem apontada pelo mercado era que o deságio médio nas receitas para os trechos leiloados ficasse entre 5% e 15%. "Foi uma surpresa estes índices acima de 40%", disse o diretor-executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia, Cesar Pinto (Abrate).