Título: PT e PSDB duelam nos grandes centros
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Política, p. A-8

Os partidos lideram na maioria das capitais e grandes centros urbanos do interior do País. Em pelo menos 21 das 68 cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores, o pleito tende a ser decidido no primeiro turno. Na segunda etapa, o maior embate entre as duas legendas será São Paulo, com Marta e Serra. Nascidos de mãe e pai na esquerda, PT e PSDB chegam neste domingo para o primeiro turno como os partidos preferidos dos eleitores dos grandes centros urbanos, com mais de 200 mil habitantes. Palmo a palmo, eles começam pelas prefeituras uma disputa que desemboca em 2006, quando os ocupantes do Congresso Nacional e Palácio do Planalto passam por novo crivo do eleitorado.

Pelas previsões dos institutos de pesquisas, das cidades onde haverá definição já na primeira etapa, tucanos e petistas dividirão a maior parte dos votos. Na contabilidade de capitais e municípios populosos do interior, de 72 cidades, o PT é apontado como favorito em 23 e o PSDB em 21.

Desta forma, daqui a dois dias os petistas teriam as prefeituras de Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Aracajú (SE), Palmas (TO) e Guarulhos (SP). Sempre levando-se em conta as cidades brasileiras mais populosas, os tucanos chegariam ao comando dos executivos de Canoas (RS), Joinvile (SC), Teresina (PI) e as paulistas São José dos Campos, Mogi das Cruzes e Jundiaí.

"Há um movimento de crescimento das candidaturas do PT. O clima é muito favorável às candidaturas do PT na maioria das capitais e grandes cidades", afirma o presidente nacional do PT, José Genoino. De fato, em vários centros importantes, o partido mesmo no segundo turno tem vantagem, como é o caso de Porto Alegre, onde o prefeito Raul Pont ruma ao quinto mandato petista consecutivo.

"Não temos mais dúvidas de que saíremos fortalecidos desta eleição", afirma Aloisio Nunes Ferreira, vice-presidente do PSDB. "O partido ganha musculatura e mostra que pode crescer mesmo na oposição", acrescenta. Ele ressalta ainda a tendência de a legenda bater o PT no campo do adversário, em grandes centros populacionais como Campinas (SP).

Mas o grande embate entre os dois partidos está marcado mesmo é para a cidade de São Paulo, que considerada a cereja do bolo. Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB) estão empatados no primeiro turno, pelas últimas sondagens. E o tucano aparece com vantagem para o segundo turno, marcado para o dia 31. A hipótese de vencer na maior cidade do País, com cerca de 10 milhões de habitantes e Orçamento previsto para 2005 de R$ 15 bilhões deixa os tucanos com água na boca.

Sem falar que se Serra bater Marta, para o PSDB ficará um gostinho de revanche contra o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Pela vitrine que representa, há quem como o governador de Minas Aécio Neves avalie que este passo é fundamental à volta do PSDB ao poder central, em 2006.

No lado petista, a visão é semelhante. Tanto que o próprio presidente Lula, que venceu Serra em 2002 na corrida ao Planalto, entrou no jogo para dar impulso à candidatura de Marta. O comando do PT chegou a temer pela derrota em meados de setembro. Naquele instante, o retrato das pesquisas mostravam a prefeita com desvantagem de 20 pontos percentuais, num eventual segundo turno.

Entretanto, os números revelados ontem pelo Datafolha apontam que a diferença entre Serra é de cerca de 10 pontos. Um dado significativo é que Marta cresceu de forte nos bairros mais pobres de Leste e Sul, as regiões mais populosas da capital. Pois é justo nestes locais que os petistas afirmam estar sua maior reserva de votos para garantir a reeleição. Afinal de contas, os moradores estes bairros são os principais beneficiados pelas inegáveis melhorias no transporte e educação, bancadas por Marta. O cientista político David Fleicher, da Universidade de Brasília, pondera ainda que no caso de São Paulo, quem está no cargo (Marta) tende ter mais espaço para crescer. "Sem contar que tradicionalmente, a militância do PT pode se impor num momento como este", diz Fleicher.