Título: Bancos públicos já alongam perfil dos fundos
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1
A nova tributação dos fundos de investimento divide gestores. Enquanto bancos públicos montam estratégias para alongar o perfil de seus fundos, administradores privados temem que os investidores prossigam privilegiando a liquidez e optam por papéis curtos, mesmo a custo de perder parte dos benefícios.
Pelas novas regras, a partir de janeiro a tributação dos fundos será decrescente: 22,5% para aplicações com até seis meses; 20% entre seis meses e um ano; 17,5% entre um ano e dois; e de 15% para recursos aplicados por mais de dois anos. Os prazos são retroativos e valem para aplicações já existentes desde 1 de julho. Ainda não há regulamentação para a contagem de tempo, mas a expectativa é de que seja usado o critério de prazo médio.
"As novas regras ainda estão sendo digeridas, mas o banco lançou recentemente um fundo com um perfil de papéis mais alongados, pensando no benefício da tributação", diz Edson Monteiro, vice-presidente de Varejo do Banco do Brasil. Os títulos do novo fundo têm prazo médio de vencimento de 365 dias.
O executivo acredita que a nova tributação vai se somar à conta investimento e, no médio prazo, alterar a cultura do investidor. "As pessoas precisam fazer uma separação entre recursos para o dia-a-dia e para os investimentos", diz. O BB tem o maior portfólio de fundos do mercado, com cerca de R$ 115 bilhões.
As novas regras do Imposto de Renda (IR) já provocam movimentação nas carteiras da Caixa Econômica Federal. "Como os prazos são retroativos, o ideal é se estruturar para conquistar o benefício da tributação para o investidor", diz o gerente de Relacionamento, Agnaldo Lombardi. "É claro que compor o fundo com papéis longos pode ser mais arriscado, implica em mais risco para a carteira, por isto é preciso ter cautela."
Esta é basicamente a preocupação dos gestores privados: que os investidores não suportem a volatilidade a que está sujeita o título público longo, já que qualquer estresse de mercado pode se refletir nos preços, a exemplo do que ocorreu no episódio da marcação a mercado, em 2002. O economista Alexandre Póvoa, sócio da Modal Asset Management, não acredita num maior apetite por papéis longos, capaz de alterar o perfil dos fundos. "O investidor é muito conservador e prefere a liquidez."