Título: Relatório do BC pressiona juro futuro
Autor: Jiane Carvalho e Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-3
O temor é de maior aperto na política monetária por conta da nova projeção do IPCA para 2005. Os juros futuros, negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), subiram ontem pressionados pela divulgação do Relatório de Inflação do Banco Central. Na análise do BC, a projeção central de inflação para 2005 ficou em 5,6%, acima dos 4,4% previstos no relatório anterior e também dos 5,1% adotados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) como meta a ser perseguida. O aumento da projeção do IPCA, segundo analistas, deixou o mercado preocupado com o rumo da Selic, fixada hoje em 16,25%.
Na BM&F, os contratos de Depósito Interfinanceiro registraram alta no juro anualizado. Os contratos com vencimento em abril de 2005, os mais líquidos com 147 mil transações, projetam um juro anualizado de 17,08%, uma alta de 0,05 ponto percentual. "O relatório do BC mostra que existe a possibilidade de aumentos maiores na Selic na tentativa de atingir a meta de inflação fixada", diz Carlos Cintra, do Banco Prosper.
Apesar da reação do mercado financeiro - temendo um aperto maior na política monetária - a visão macroeconômica é diferente. Para o economista-chefe da ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, o relatório de inflação não trouxe novidades. Segundo ele, o BC confirmou que está preocupado com fatores futuros que podem ameaçar a inflação e, portanto, tende a agir de forma preventiva. "Hoje, ainda não há pressão de demanda e nem descontrole inflacionário", diz. "Existem apenas riscos e, nesse cenário, a política de aperto monetário deverá se manter gradual", avalia Penteado. O relatório indica também, segundo o economista, que o BC trabalha com uma expectativa de recuo dos preços do petróleo. "O óleo é a grande ameaça para política monetária", conclui.
A pressão exercida pelos preços da commodity sobre a expectativa de inflação deve continuar. Ontem, as cotações do petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, registrou nova alta. O barril subiu 0,26%, cotado a US$49,64. Durante o dia, o preço registrou um pico de US$ 50,10. Segundo analistas, a nova alta do petróleo foi o principal fator que ontem influenciou a cotação da moeda norte-americana, em dia de baixo movimento.
A tendência de queda do dólar foi inibida pelo temor dos investidores com a disparada do petróleo, que poderia reduzir o ritmo de crescimento da economia mundial. O dólar comercial subiu 0,17% e fechou cotado a R$ 2,86. No entanto, no acumulado de setembro a moeda registra queda de 2,36%. Este foi o quarto mês consecutivo de baixa nas cotações. No ano, a baixa chega a 1,04%. O C-Bond, principal papel da dívida brasileira, fechou cotado a 99,125 % do valor de face, uma alta de 0,44%. Já o risco-Brasil encerrou o mês com queda acumulada de 10,05%, para 468,91.