Título: PT rebate críticas e busca acordos no segundo turno
Autor: Otto Filgueiras
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/10/2004, Política, p. A-11
Com um olho na votação e outro já no segundo turno, a cúpula do PT se reuniu ontem com líderes de partidos aliados e a prefeita Marta Suplicy, candidata à reeleição, em um encontro na capital pouco antes do início da votação. A estratégia para o segundo turno - em especial os apoios que estão sendo costurados - foi o tema central das conversas. Enquanto um eventual apoio do candidato Paulo Maluf (PP) é tratado com reservas, o partido dá como certa uma aliança com o PMDB e também com o PSB, da ex-prefeita Luiza Erundina, apesar da resistência que a candidata tem demonstrado em se reaproximar do PT.
A prefeita Marta, bastante otimista, disse que, no segundo turno, o eleitor terá melhores condições de comparar suas propostas às de seu adversário José Serra (PSDB). Segundo Marta, não haverá "línguas de aluguel" para atacá-la daqui em diante. Marta justificou sua confiança alegando que tem o apoio das camadas menos abastadas da sociedade. "A população carente já me apóia, é preciso apenas que a classe média seja um pouco mais generosa e entenda a importância dos programas sociais que fiz", disse. "Conseguimos fazer tanta coisa em quatro anos, com tão pouco, mas ficou faltando e eu queria poder completar o trabalho que comecei."
Sobre as alianças para o segundo turno, a prefeita foi cautelosa. "Apoios certos são os que já tivemos no primeiro turno, mas é evidente que vamos trabalhar para sensibilizar os eleitores que não votaram em mim", disse. A prefeita se limitou a dizer apenas que o PT já está procurando o apoio de outras legendas para o segundo turno. "Temos conversações preliminares, mas esse é um tema tratado entre presidentes de partido."
Bem menos cauteloso foi o discurso do presidente nacional do PT, José Genoino. Dizendo-se tranqüilo quanto ao primeiro turno - chegando a afirmar que Marta terminaria com até três pontos à frente de Serra - Genoino já computava os apoios que espera receber. "Queremos os votos dos eleitores da Erundina, do Maluf, do Rossi; enfim, estamos bem posicionados para o segundo turno", disse. "É natural que partidos como PMDB, PSB e PP se unam ao PT."
O tom do discurso de Genoino só mudou quando o assunto foi o possível apoio do candidato e ex-prefeito Paulo Maluf à campanha de Marta Suplicy. "Não sabemos como ele vai manifestar o seu apoio à candidatura Marta, isto é uma outra questão", se limitou a dizer. O tema foi tratado com muita reserva também pelo senador Eduardo Suplicy (PT/SP). "Ele tem muitos votos e vamos conversar, mostrar que nosso programa é melhor que o do Serra, mas a atuação direta do Maluf na campanha, em um palanque, por exemplo, seria estranha até para os eleitores do ex-prefeito", ponderou o senador.
Dos apoios que o PT espera receber, o do PMDB é dado como certo e deve ser formalizado amanhã. Os últimos detalhes deste apoio devem ser acertados hoje em um almoço na capital paulista entre o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
A cúpula petista também aproveitou o encontro para rebater críticas feitas pelo PSDB. Sobre a acusação de que o PT estaria utilizando a política do toma-lá-dá-cá para construir suas alianças, o presidente nacional do PT foi irônico. "Eles estão é com raiva do PT porque também procuraram estes partidos e não conseguiram nada", afirmou Genoino. "Eles também disseram que o Lula não seria um bom eleitor para a Marta e os números não mostram isto, agora quero ver o que eles vão falar com a economia crescendo."
Se um possível apoio de Paulo Maluf é tema difícil no PT, o mesmo não ocorre quando o assunto é a candidata e ex-prefeita Luiza Erundina. "A Marta e a Erundina tiveram uma trajetória parecida, lutaram por democracia e acho natural que ocorra um diálogo civilizado", disse o senador Suplicy. "Acho que nem mesmo a troca de acusações entre as duas candidatas, durante a campanha, vai impedir o caminho do diálogo."
Após o encontro no Comitê Central do PT, a prefeita Marta visitou colégios eleitorais nas zonas Leste e Sul da capital. A prefeita votou no final da tarde em um colégio dos Jardins, na zona Sul da capital. Quando a prefeita deixava o local, houve um tumultuo entre partidários do candidato Serra e os seguranças da candidata, mas foi rapidamente controlado.