Título: Crescimento e dívida marcam reunião
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Fonte: Gazeta Mercantil, 04/10/2004, Internacional, p. A-12

Assembléia anual termina em Washington sem avanços quanto ao pleito dos países pobres. A Assembléia Anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) terminou ontem em Washington, com um pedido de aumento da ajuda aos países em desenvolvimento e de aproveitamento do crescimento mundial para a realização de reformas. Em seu discurso de encerramento, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, disse que os países "devem aproveitar esta etapa de recuperação econômica" para adotar medidas que permitam consolidar o crescimento.

Entre elas, Rato citou a necessidade de colaboração entre os países para solucionar os desequilíbrios nas balanças de conta corrente e a conveniência de promover a consolidação fiscal. Ele se referiu a um dos assuntos que dominaram a reunião, o aumento da ajuda aos países mais pobres, e acolheu positivamente o "consenso" internacional de aumentar essa assistência e perdoar a dívida. O diretor-gerente do FMI chamou de "tecnicamente sólidas" as propostas para taxar as transações internacionais com um imposto para o desenvolvimento, inclusive a apresentada pela ONU com Brasil, França, Chile e Espanha. Mas, para ele, é necessário um acordo político para sua implementação.

O presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn reiterou convocação feita pelo Bird e pelo FMI nos últimos dias para estimular as negociações da Rodada de Doha sobre o livre comércio. O FMI considera esse assunto "essencial" para o crescimento econômico. O representante de Comércio Exterior dos EUA, Robert Zoellick, também reforçou esse pedido. "Acho que será possível fazê-lo nos próximos 18 meses, mas será necessário um impulso muito forte", disse ele durante reunião anual do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que reúne mais de 340 dos maiores bancos do mundo e acontece paralela ao encontro do FMI.

Zoellick disse que a cooperação entre os EUA e a União Européia será essencial para conseguir o êxito nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), e também de países "de nível médio", como Brasil, China e Índia, que seriam beneficiados por um acordo. A Rodada de Doha, lançada em 2001, deveria acabar em 1 de janeiro de 2005, mas está atrasada.

A Assembléia anual do FMI, que durou dois dias, em Washington, terminou, no entanto, sem avanços concretos no que diz respeito à dívida dos países mais pobres. Os 184 países membros só decidiram adiar o debate. Também não se chegou a um acordo sobre a dívida iraquiana. O assunto não estava explicitamente na pauta, mas foi muito debatido, tanto na Assembléia como nas negociações do G7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos.

A subida drástica nos preços do petróleo levou Rato, em seu discurso na plenária da Assembléia, ontem, a pedir cuidadosa supervisão dos efeitos dessa alta e ofereceu ajuda do Fundo aos países mais pobres (ver mais à página A-6).

Ao se referir à economia mundial, Rato disse que, ao longo deste ano "a recuperação foi ficando mais confiável". O crescimento do PIB mundial em 2004 será em torno de 5%, o mais alto em quase três décadas. O IIF, por exemplo, prevê que a economia brasileira vai crescer 4,8% este ano e 4% em 2005. Para os países emergentes, a estimativa é de um crescimento de 6,2% do PIB. Se confirmada, seria a maior expansão em 20 anos.

A sessão plenária do FMI foi aberta ontem pelo presidente dos conselhos de diretores, o ministro do Comércio de Cingapura, Lim Hng Kiang. Também discursaram, entre outros, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, e o ministro da Economia da Espanha, Pedro Solbes. Snow falou sobre a questão da dívida dos países mais pobres.

Os EUA estão "dispostos a conceder um perdão de até 100% da dívida", segundo Snow. Ele acrescentou que os detalhes sobre as alternativas apresentadas por Washington, Londres e a ONU são menos importantes que o "consenso generalizado" sobre a necessidade de atingir esse objetivo. Este perdão, indicou, deveria vir acompanhado de "um maior uso das doações" como mecanismos de ajuda ao desenvolvimento aos países mais pobres, em detrimento dos empréstimos, que considerou que não fazem mas do que prolongar a dívida.

Washington quer que o Bird e outras instituições de crédito perdoem totalmente o que os países mais pobres devem. Segundo os opositores da proposta, isso diminuiria os recursos dessas instituições. O Reino Unido propõe assumir a parte que lhe cabe, 10% do total das dívidas. E, na iniciativa da ONU, o Brasil, a Espanha, a França e o Chile propõem taxar as transações internacionais com um imposto que seria destinado ao desenvolvimento.

A Assembléia também serviu para os países industrializados debaterem, fora da reunião, a dívida iraquiana. Os EUA querem o cancelamento de 95% da dívida, o que supera 120 bilhões de dólares. O ministro francês da Economia, Nicolas Sarkozy, disse que a França propõe um perdão imediato de 50%, que poderia aumentar em três anos.

kicker: Washington quer que o Bird perdoe tudo o que os países mais pobres devem