Título: Os candidatos a vice debatem hoje
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Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Internacioal, p. A-9

Edwards e Cheney tentarão mobilizar os eleitores; pesquisas dão vantagem a Bush. Os debates entre os candidatos a vice-presidente raramente têm muita importância na corrida à Casa Branca, mas o confronto de hoje à noite, entre o atual ocupante do cargo, Dick Cheney, e o seu adversário democrata, John Edwards, promete um emocionante confronto de estilos. Além disso, os analistas vão acompanhar atentamente o debate, para saber de que forma ele pode influir sobre as intenções de voto. Ontem, uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que o presidente republicano detém uma ligeira superioridade sobre Kerry - 49% a 44% - entre os prováveis eleitores. A maioria considera Bush um líder forte, que pode realizar um trabalho melhor de combate ao terrorismo, embora concordem maciçamente que o senador democrata e candidato à presidência, John Kerry, venceu o primeiro debate focalizando-se na política externa.

Hoje à noite, Cheney, apontado por seus críticos como a eminência parda que arquitetou a guerra no Iraque, e Edwards, o sulista de discurso otimista e estilo "caseiro", vão debater durante 90 minutos pela TV, num encontro que ganha mais importância depois do fraco desempenho de Bush contra Kerry.

Caberá a Cheney, o mais aguerrido partidário da guerra e crítico de Kerry dentro do governo, defender a atuação da Casa Branca no Iraque e conter o avanço do democrata, que conseguiu colocar seu adversário na defensiva no debate da quinta-feira. Várias pesquisas mostraram que Kerry obteve um ligeiro impulso com o debate e algumas mostram que ele voltou a ficar empatado com Bush, ou seja, na situação anterior ao salto dado pelo presidente durante a Convenção Republicana.

Os estrategistas de Bush dizem que Cheney, um experiente conselheiro do presidente, vai pressionar Edwards a respeito dos planos de Kerry para o Iraque e para a segurança nacional, ao mesmo tempo em que deve destacar as ações do atual governo para deixar os EUA mais seguros. "Isso é um forte contraste com o que o senador Kerry e o senador Edwards querem fazer, o que nos leva de volta à guerra ao terrorismo e economia nos dias pré-11 de Setembro", disse Matthew Dowd, estrategista de Bush.

Rejeição a Cheney

Embora Cheney venha cumprindo o papel que se espera do candidato a vice - partir para o ataque - seus índices de rejeição podem obrigá-lo a não ir com tudo para cima dos democratas. Já Edwards, senador pela Carolina do Norte e ex-advogado de tribunal, construiu a imagem de político que faz campanhas positivas, durante as primárias democratas, e pode não estar disposto a correr riscos.

Mas assessores de Kerry dizem que Edwards vai usar truques aprendidos na sala do júri para questionar Cheney a respeito de sua participação na formulação das políticas para o Iraque e segurança. Também deve lançar mão das ligações de Cheney com a empresa Halliburton, principal beneficiária dos contratos americanos no Iraque. Cheney dirigiu a companhia entre 1995 e 2000.

Olho no olho"Espero que John Edwards olhe o vice-presidente nos olhos e diga: `Por que você não foi honesto, por que não falou claramente conosco, por que saiu pelo país falando que havia uma conexão entre a Al Qaeda e Saddam Hussein?,¿" disse Lockhart. Cheney e Edwards são opostos em tudo. O vice, de 63 anos, é careca, usa óculos e tem fama de político sério, com ampla experiência de governo e na área de segurança nacional. Não faz muito tempo, ele xingou um senador democrata no plenário do Senado. Já Edwards, de 51 anos, está em seu primeiro mandato como senador e já foi escolhido pela revista People como o político mais "sexy" dos EUA.

Bush ignora a ciência

Em campanha, John Kerry ampliou ontem seus ataques ao presidente Bush, acusando-o de ignorar a ciência e a possibilidade de curar milhões de americanos doentes, por causa de sua oposição aos estudos com células-tronco. Em discurso em New Hampshire, ao lado do ator Michael J. Fox, vítima do mal de Parkinson, o senador disse que, se for eleito, vai remover as restrições de Bush ao uso de dinheiro público para pesquisas com células-tronco. "A dura verdade é que, no que diz respeito pesquisa com células-tronco, o presidente está fazendo a opção errada de sacrificar a ciência em nome de uma ideologia de direita", disse Kerry numa reunião sobre ciência numa escola de New Hampshire.

Em Washington, um grupo de 186 ex-embaixadores americanos - entre eles John Eisenhower, filho do ex-presidente Dwight D. Eisenhower - declarou seu apoio a Kerry, com duras críticas à política externa do presidente Bush. Os diplomatas, que serviram em administrações democratas e republicanas, asseguraram que é "imprescindível" uma mudança de governo, se os EUA quiserem reforçar a segurança nacional. Em entrevista coletiva em Washington, o grupo acusou Bush de desperdiçar o apoio exterior que os EUA conseguiram, após os atentados de 11 de setembro de 2001 e que a invasão do Iraque minou as alianças necessárias para prosseguir a guerra contra o terrorismo com garantias de êxito.

Eisenhower também anunciou sua saída do Partido Republicano, depois de 50 anos de militância pela decisão de Bush de invadir "unilateralmente o Iraque". Cleveland (Ohio), Washington e Hampton