Título: Novo negociador europeu diz preferir conteúdo a rapidez
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Internacioal, p. A-10

Peter Mandelson, indicado para ser o próximo Comissário para o Comércio da União Européia (UE), a partir de 1 de novembro, afirmou ontem que se até o final de outubro não for fechado o acordo comercial com o Mercosul, a negociação pode levar um certo tempo para ser retomada. E disse preferir conteúdo a prazo, indicando que com ele a discussão pode ser tão difícil quanto com o atual comissário, Pascal Lamy. "Esse é um projeto político e econômico de muita importância e espero que Pascal o finalize antes de deixar o cargo", disse a membros do parlamento europeu em Bruxelas, segundo a agência de notícias Bloomberg News. "Caso contrário, continuarei o trabalho, embora possa levar algum tempo para retomarmos o processo, pois o Mercosul acabou de apresentar uma proposta inaceitável. Em minha abordagem, dou preferência ao conteúdo em detrimento da rapidez."

"Ainda não chegamos ao fim da estrada. Estamos em um ponto intermediário das negociações", disse ele.

Os membros ficam

Lamy sai do cargo de comissário, mas os membros da UE ficam. Por isso, Mandelson deverá enfrentar os mesmos problemas de protecionismo em relação a alguns membros da UE, enfrentados por seu colega, que foi acusado por esses países protecionistas de ser muito generoso em negociações como a com o Mercosul. Para Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), a diferença é que Lamy está saindo e isso ajuda a tirar seu poder de negociação, ao passo que o deputado britânico trabalhista está chegando e poderá ter melhores condições de criar um novo laço com os membros do bloco europeu.

Régis Arslanian, que chefia o departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, disse ontem que a negociação ainda não está num ponto de impasse. O governo deverá decidir nesta semana sobre o que acha, definitivamente, sobre a proposta européia (ver matéria nesta página). E afirmou que se o acordo não for fechado até 31 de outubro, isso não será uma tragédia.

600 milhões de pessoas

Entre a sexta-feira retrasada e a última quarta-feira, os dois blocos trocaram ofertas de abertura. Houve recuo dos dois lados e uma parte acusa a outra de ter feito uma proposta inaceitável. Desde então a UE diz que o prazo de 31 de outubro para fechar o acordo estabelecido no cronograma de negociação, não será cumprido. Mandelson repetiu isso ontem.

Quando a indicação de Mandelson para o comissariado da UE foi anunciado, houve avaliações de que isso poderá ser positivo para a negociação entre a UE e o Mercosul, caso não seja fechada até o final de outubro. O que motivou esse tipo de análise foi, por exemplo, o fato de o deputado trabalhista ser próximo do primeiro-ministro britânico Tony Blair, um crítico do protecionismo agrícola europeu. Há ainda o fato de o deputado conhecer bem o Brasil e de facilmente se encontrar britânicos com o liberalismo nas veias.

As negociações entre a UE e o Mercosul, que criaria a maior área de livre comércio do mundo, com 600 milhões de pessoas, progrediram pouco desde julho. O comércio entre os dois blocos chegou a ¿ 40 bilhões no ano passado e a UE é o maior parceiro comercial do Mercosul. Do que o bloco sul-americano exporta, 25% vai para a UE.