Título: Amorim diz que fez o possível para UE
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Internacioal, p. A-10

"Eu tenho que ser franco. Nós não podemos fazer tudo o que achávamos que poderíamos fazer. Mas fizemos talvez 90% do que indiquei que poderíamos fazer", disse o chanceler Celso Amorim a respeito da oferta do Mercosul para a União Européia (UE), na negociação de um acordo comercial. Porém, afirmou que enquanto o Mercosul ofereceu há 10 dias mais do que havia indicado em maio, os europeus fizeram uma proposta pior que a sinalizada naquele mês. Amorim disse estar pronto para tentar levar a negociação adiante, se houver concordância dos outros ministros e um gesto da UE nesse sentido.

Para o chanceler, o setor agrícola está organizado para as negociações internacionais, "mas outros eu sinto menos organizados, menos capazes de definir seus objetivos". E isso dificulta a negociação, afirmou. Levou, por exemplo, a um recuo em algumas ofertas para a UE.

Sandra Rios, consultora da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), disse que para o setor industrial fazer melhores ofertas, é preciso, por exemplo, haver uma sinalização do governo e dos interlocutores do País de que o outro lado fará algo semelhante. Amâncio Jorge de Oliveria, professor da Universidade de São Paulo (USP), disse que a CEB tem dificuldade de ter uma agenda ofensiva, "muito por conta da indústria". "A CEB sempre defendeu que o Brasil deveria fazer ofertas em todas as áreas", respondeu Sandra.

Segundo ela, um dos fatores que dificulta a negociação são problemas como a perfuração da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. Diferenças entre Brasil e Argetnina também têm impacto. Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Inernacionais (Icone), afirmou que a Argentina atrapalhou o Brasil na oferta do Mercosul à UE. Isso porque os argentinos pressionaram por maior protecionismo. E a oferta do bloco sul-americano leva em conta a proposta mais tímida. "Sempre há um preço a pagar pela unidade", disse Amorim, ao comentar a negociação em bloco. De acordo com o ministro, na negociação com a UE o Brasil tem aprendido detalhes sobre os setores, que que podem ajudar na discussão da Área de Livre Comércio das Sméricas (Alca). (C.M.)