Título: Escola do CTA forma pilotos de elite
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Carreiras, p. A-13

Embraer também contrata os especialistas que antes atendiam apenas a demanda da FAB. Os alunos que se formam no curso de Ensaios em Vôo do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) já contam com o reconhecimento internacional da conceituada Sociedade dos Pilotos de Prova de Aeronaves Experimentais (SETP), dos Estados Unidos. Além do CTA, apenas cinco escolas no mundo - três nos Estados Unidos, uma na Inglaterra e outra na França - têm sua estrutura de ensino reconhecida pela SETP.

A excelência do curso brasileiro foi confirmada formalmente pela SETP, em abril deste ano, após detalhada avaliação feita por dois membros da entidade, que visitaram a escola em maio de 2003. Criado em 1986, o curso de ensaios em vôo da Aeronáutica já formou 48 pilotos, 37 engenheiros e 59 técnicos. Voltado inicialmente para atender as necessidades da Força Aérea Brasileira (FAB), de formação de especialistas em testes das aeronaves militares, o curso está preparado para aceitar militares de outros países e civis de empresas como a Embraer, cuja equipe de pilotos de prova é quase toda oriunda da FAB.

O reconhecimento da SETP permite que os alunos do CTA se tornem membros efetivos da entidade. Apenas dois brasileiros fazem parte da SETEP como membros honorários: Ozires Silva, um dos fundadores da Embraer e o brigadeiro da reserva Hugo de Oliveira Piva, que coordenou o desenvolvimento dos foguetes de sondagem e armamentos guiados no Brasil de 1974 a 1987.

Os profissionais formados na Escola de Ensaios em Vôo do CTA são muito valorizados pelo mercado aeroespacial devido ao alto nível do curso, realizado durante 45 semanas, com carga horária de 650 horas e mais 120 horas de vôo para o piloto e 100 para o engenheiro. O único problema do curso é o custo: US$ 1 milhão para o piloto e US$ 800 mil para o engenheiro. "As horas de vôo é que encarecem o curso, mas já estamos trabalhando para reduzir nossos valores e, dessa forma, conseguir atrair alunos de outros países e de empresas do setor aeroespacial", explica o tenente coronel Rubens Peixoto da Silva, chefe da Divisão de Ensaios em Vôo do CTA (DEV).

A equipe de ensaios em vôo da Embraer é composta por 83 pessoas: 55 engenheiros, formados no CTA, em escolas de fora do País e dentro da própria Embraer, 23 pilotos, 16 oriundos da FAB e 5 co-pilotos. Segundo Silva, a Embraer também contratou alguns ex-pilotos de prova da FAB para trabalhar em projetos da área de defesa, tal o nível de conhecimento acumulado por eles em relação ao segmento de aeronaves militares.

Antes da escola do CTA ser criada, os pilotos e engenheiros da FAB faziam o curso de ensaios em vôo nas escolas dos EUA, França e Inglaterra. A existência de um curso desse porte, segundo Silva, é considerada estratégica, pois garante autonomia para que o Brasil seja capaz de desenvolver, produzir e ensaiar seus próprios aviões e armamentos, sem ficar dependendo de acordos internacionais.

Os pilotos e engenheiros formados no curso de Ensaios em Vôo tem uma participação relevante na avaliação de projetos estratégicos da Aeronáutica. São eles, por exemplo, que recebem os novos aviões comprados pela FAB, como é o caso do treinador avançado ALX, produzido pela Embraer e também todos os aviões comerciais desenvolvidos pela empresa até hoje (desde o Bandeirante até os novos jatos de 70 a 100 lugares). Os cinco caças supersônicos que participam da concorrência F-X da FAB também foram avaliados pela equipe do CTA em cada um dos países de origem das aeronaves. A qualificação do míssil anti-aéreo MAA-1, desenvolvido pela Mectron, foi feita em aviões militares pilotados por brasileiros.

O reconhecimento do nível de excelência da escola, segundo o chefe da Divisão de Ensaios em Vôo do CTA (DEV), é importante na medida em que amplia as possibilidades de intercâmbio com as escolas de outros países, numa área em que a tecnologia e o conhecimento não são muito difundidos. "O exercício final do curso exige que o aluno faça um teste em uma aeronave inédita. Recebemos em 2003 um piloto e um engenheiro de ensaios da EPNER (École du Personnel Navigant d''Essai et de Recepcion) da França, que voaram cinco horas no caça brasileiro AMX."

Em novembro, a escola do CTA receberá outra dupla de estrangeiros de ensaios em vôo, da USNTPS (United States Naval Test Pilots School), que há alguns anos manda seus alunos para o Brasil. Os alunos brasileiros também costumam trocar experiências com as escolas estrangeiras de ensaios em vôo. Este mês está prevista a ida de três equipes: uma delas irá para a França, para voar uma aeronave Mirage 2000.

Nos EUA uma dupla de piloto/engenheiro voará o F-18, na escola da Marinha americana e a outra o F-16, na escola da Força Aérea. Os exercícios em vôo serão realizados com a orientação dos instrutores desses países. "Em 2005 queremos mandar nossos alunos para a escola da Índia, onde terão a oportunidade de voar as aeronaves russas Mig-29 e Sukhoi."