Título: Gazeteiros driblam o novo ponto
Autor: Jeronimo, Josie ; Santos, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2011, Política, p. 10

SENADO O Senado gastou R$ 1,2 milhão para instalar o ponto biométrico, que teve sua inauguração oficial ontem. Mas nem mesmo com a exigência de passar o crachá magnético e colocar o polegar na leitora a Casa estará livre dos servidores fantasmas e gazeteiros. Funcionários do Senado descobriram uma maneira de driblar o ponto biométrico e garantir pagamento do dia trabalhado, enquanto usam o tempo do expediente para atividades pessoais.

Distante dos salões do Congresso, a máquina de ponto que fica nos arredores do serviço médico da Casa é disputada pelos servidores que marcam presença, mas fogem do trabalho. No primeiro dia de funcionamento do ponto biométrico obrigatório, o Correio acompanhou a rotina matinal de servidores que escolheram o aparelho afastado dos olhos dos chefes para falsificar a comprovação de frequência. Das 7h às 9h, o movimento na leitora de ponto que fica perto de uma agência da Caixa Econômica Federal é movimentado. Servidores passam pela cancela que dá acesso ao local e deixam o carro ligado enquanto correm para registrar a presença. Depois, ganham asfalto rumo a pistas que dão acesso às Asas Sul e Norte, mas bem longe do Congresso.

Na ensolarada manhã de sexta-feira, depois de uma semana legislativa esvaziada pela morte do ex-presidente da República José Alencar, servidores não se intimidaram em fraudar o ponto. O movimento começou cedo, às 7h31 um homem de aproximadamente 40 anos, vestindo calça jeans e tênis, chega com o som alto, em um Polo preto. Ele encosta o carro na calçada próxima de onde fica o ponto e, em menos de dois minutos, registra presença e vai embora, em direção à Asa Norte.

Com o cachorro Menos de quarenta minutos depois, a cena se repete. Dessa vez, uma mulher em uma picape Suzuki prata, acompanhada de um cachorro branco, desce do carro vestindo uma calça de ginástica, tênis e um casaco. Ela estaciona do lado contrário à entrada onde fica o ponto biométrico, registra presença e sai em alta velocidade em direção aos anexos dos ministérios.

A prática não é novidade para os servidores. Funcionários cumpridores dos deveres se dizem revoltados com a gazeta e contam que, não raro, colegas batem ponto de bermuda e vão para casa, em vez de trabalhar. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), encaminhou ofício na noite de ontem responsabilizando os diretores de seções pela fraude na frequência. ¿Tendo recebido denúncias de que alguns funcionários estão burlando a frequência da Casa, registrando presença no ponto eletrônico e depois se ausentando de suas obrigações funcionais, determino oficiar aos diretores das diversas seções do Senado a apuração dos fatos, ressaltando a responsabilidade pessoal do funcionário e de seu superior. Caso haja comprovação das denúncias, proceda-se a abertura de sindicância.¿