Título: País investe 70% a mais para exibir turismo no exterior
Autor: Andréa Ciaffone
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Mídia & Marketing, p. A-14

Verba publicitária para 2005 vai chegar a R$ 173 milhões, um recorde. Em certas searas os brasileiros, na maior parte das vezes tão críticos das coisas da política, são cegamente ufanistas. No topo da lista dos bons motivos para se orgulhar da terra com palmeiras e sabiá, empatado com o futebol, está justamente o fato de sermos um país tropical bonito por natureza. Entretanto, os nativos de outras terras teimam preterir as visitas ao Brasil na hora de escolher o destino para as férias, certamente por um imperdoável desconhecimento da nossa beleza e hospitalidade.

Para tentar corrigir a disparidade entre a oferta de atrativos e o afluxo de turistas, o Ministério do Turismo investirá R$ 173 milhões (US$ 58 milhões) em promoção no exterior e internamente em 2005. O volume de verba significa o maior montante já investido em promoção do Brasil. "O investimento em promoção é crucial para atingirmos nossa meta de, em 2007, chegarmos a 65 milhões de desembarques domésticos e uma geração de US$ 8,5 bilhões em divisas", diz o ministro do turismo, Walfrido dos Mares Guia.

Para se ter uma idéia do desafio que essa meta representa, vale dizer que pressupõe um crescimento de 14,7% por ano nos desembarques, considerada uma das formas mais precisas de medir os deslocamentos por meio de avião, já que este costuma ser o meio de transporte preferido dos turistas. Em relação à geração de divisas, a meta do governo projeta um crescimento anual médio de 23,9%. As metas são ambiciosas, mas o ministério do turismo parece já estar acostumado a percentuais eloqüentes.

"Nos oito primeiros meses de 2004, os turistas estrangeiros gastaram US$ 2,1 bilhões no Brasil, valor 36% maior que o registrado no mesmo período do ano passado", argumenta Mares Guia. Além disso, o saldo da balança do turismo - diferença entre o que estrangeiros gastam no Brasil e o que os brasileiros gastam no exterior - ficou positivo em US$ 355 milhões neste período, enquanto que em 2003 a diferença foi de apenas US$ 87 milhões. Ou seja, o superávit praticamente triplicou.

"A promoção é a principal ferramenta para manter os brasileiros viajando dentro do Brasil e para atrair os estrangeiros", diz Mares Guia. Por isso, a expansão do orçamento para essa atividade é mais do que bem vinda. (ver quadro). De R$ 5,5 milhões investidos em promoção internacional no ano de 1999, chegamos a 2004 com investimento de R$ 62,7 milhões.

Os investimentos em promoção deverão ocorrer de acordo com uma "engenharia" financeira um tanto complexa. "Um terço do orçamento, R$ 56 milhões, será destinado à promoção em território nacional. Os outros dois terços são para ações internacionais", descreve. A complexidade começa com as regras que determinam como as respectivas verbas serão alocadas.

"Dos R$ 117 milhões destinados à promoção no exterior, praticamente metade será investido na participação em 34 feiras internacionais de turismo e nos nove escritórios de promoção que mantemos fora do País. A outra metade será dividida: 50% vai para as ações de marketing da Embratur e os outros 50% vão para os estados", explica o ministro.

Para os estados adquirirem acesso à parte do orçamento a eles dedicada, terão que apresentar propostas explicitando qual produto ou destino turístico que será divulgado e em que mercado essa divulgação irá ocorrer. "As propostas serão aprovadas de acordo com seu nexo em termos de estratégia e do seu potencial", esclarece o ministro.

No mesmo ritmo acelerado dos seus números, o prestígio do turismo como atividade industrial parece estar se expandindo e isso se reflete no orçamento do ministério, que cresceu 34,6% deste ano para o próximo. Em 2004, o orçamento foi de 229 milhões. Para 2005, já foram aprovados R$ 308 milhões. "Em outubro devemos conseguir algo em torno de R$ 70 milhões em emendas para serem aplicadas em promoção e em infra-estrutura", diz Mares Guia. "No total, esperamos mais de R$ 400 milhões em emendas", acrescenta. "Essa é a maior prova de que o entendimento do Congresso Nacional sobre a importância do turismo se ampliou sensivelmente", estima.

"Hoje reconhecido como negócio, o turismo é responsável por 10% do PIB e é maior empregador do planeta - um em cada nove empregos fazem parte da cadeia industrial do turismo", destaca. A partir deste entendimento por parte das autoridades que definem o orçamento, tudo indica que os investimentos se avolumarão e rapidamente teremos mais estrangeiros e brasileiros apreciando nosso país deitado eternamente em berço esplêndido.