Título: Dólar cai com melhora dos indicadores
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Moeda fechou em R$ 2,825; risco-país cai para 445,41 pontos e C-Bond supera valor de face. O mercado viveu ontem mais um dia de melhora geral nos indicadores. O dólar comercial fechou em queda de 0,53%, vendido a R$ 2,825. O risco-país, medido pelo banco JP Morgan, recuou 4,07%, ficando em 445,41 pontos. Desvalorização do dólar e queda do risco-país favoreceram as taxas de juros futuros que também recuaram. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os contratos com vencimento em abril de 2005, os mais líquidos movimentando R$ 7,9 bilhões, fecharam com juro anualizado de 17,03%, contra 17,08% do ajuste de sexta-feira.

Os boatos de que o País vai realizar uma emissão soberana vêm ganhando força e ajudaram a derrubar a cotação do dólar. Ontem, a demanda dos investidores pelos papéis da dívida soberana levou o C-Bond a superar os 100% do seu valor de face, com uma valorização de 0,95%. Isto reforçou ainda mais as especulações de uma nova venda de títulos da dívida no exterior pelo governo brasileiro.

Além disso, a expectativa por parte dos analistas é de que em outubro cresça o volume de captações externas privadas, por conta da melhora dos indicadores do País em setembro que reduzem o custo do dinheiro. O cenário otimista foi reforçado ontem com o recuo na cotação do petróleo e a divulgação, pelo Banco Central, do relatório de mercado.

Segundo pesquisa do BC com analistas de mercado, o mercado espera que a taxa Selic fique em 17% ao ano em 2004. Já a projeção para o IPCA nos próximos 12 meses recuou pela segunda semana consecutiva, passou de 6,23% para 6,18%. O petróleo negociado na Bolsa de Mercadorias de Nova York, tipo WTI, registrou queda de 0,41% no barril, negociado a US$ 49,91.

A cotação da moeda norte-americana no curto prazo, segundo analistas, deve manter a tendência de queda. "Acredito que até o final da semana a cotação caia abaixo dos R$ 2,80 por conta do crescente fluxo de dólar para o País, graças aos superávites comerciais e às captações", prevê Mario Paiva, da corretora Liquidez. A opinião dos analistas é de que hoje não existe um piso de sustentação para o dólar. "A desvalorização deve se manter nos próximos dias e só fatores imprevisíveis podem reverter esta tendência", diz Rodrigo Trotta, do Banif Investment Primus. A atuação do BC para frear esta queda é considerada pouco provável.

"O BC só vai agir se a valorização do câmbio estiver prejudicando a economia como um todo, reduzindo a competitividade de nossas exportações, por exemplo", diz Paiva. A última vez que o BC interveio, comprando dólar para evitar o câmbio excessivamente valorizado, foi em 13 de janeiro, quando a moeda chegou a R$ 27,776. "A única forma de o BC intervir é comprando divisas e não acredito que isto ocorra", afirma Trotta, do Banif.

No campo internacional, ontem o risco-país ficou em 445,41pontos. O Brasil vem registrando sucessivas melhoras neste indicador. O País, apesar de fechar setembro na mesma posição (5 maior risco do mundo), registrou no período redução de 56 pontos-base. Segundo levantamento da consultoria GlobalStation, dentre os países que compõem o ranking dos 10 maiores risco-país, a Venezuela registrou a maior queda percentual, de 11,64%, seguido pelo Brasil, em segundo, com queda de 10,73%.

Lembrando que o menor patamar registrado pelo País na história foi de 398 pontos no dia 12 de janeiro deste ano. O economista-chefe da GlobalStation, Marcelo de Ávila, acredita que o Brasil possa romper novamente a barreira dos 400 pontos ainda em 2004, mas alerta que permanecer neste patamar já é tarefa mais difícil. " O aumento do superávit primário para 2005 e um maior rigor da política monetária são vistos com bons olhos pelos credores internacionais, mas alguns indicadores ainda não são os bons", analisa Ávila.

A relação dívida pública/PIB, hoje na casa dos 54,1%, ainda é insatisfatória, segundo o economista. "O País tem dificuldade em melhorar este indicador, porque 52,93% da dívida é corrigida pela Selic", diz. "A cada 0,25 ponto percentual de aumento na Selic a dívida encarece em R$ 1 bilhão em 12 meses."

A expectativa de aumento da taxa desestimula a compra de papéis prefixados pelo governo, o que dificulta a estratégia de mudança do perfil da dívida pública. "O investidor olha muito esta relação (dívida/PIB) e mesmo que o risco rompa os 400 pontos vai ser difícil se manter nesta posição."