Título: Clima pode afetar a próxima safra de café
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Agribusiness, p. B-12

A próxima safra de café pode ter grande quebra devido a problemas climáticos e menores tratos culturais. A demora e a irregularidade da chuva prejudicaram a florada da safra 2005/06. Analistas esperam uma produção até 45% inferior a atual, de 38,26 milhões de sacas (60 quilos), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O clima já não havia sido favorável à safra passada, pois o excesso de chuvas tinha prejudicado a qualidade do grão e atrasado a colheita. A produção de 2005/06 também poderá ser afetada, pois em algumas regiões foram até 70 dias sem chuvas e, desde que as precipitações retornaram, têm sido irregulares.

Diante desse quadro, Francisco Arantes, da Termo Corretora, acredita em uma quebra de 25% a 40%, além do prejuízo à qualidade do grão. Para Paulo Magno, analista da Conab, ainda é cedo para se verificar as perdas, mas ele acredita que o atraso na colheita e os poucos tratos culturais podem ter prejudicado a produção.

"Os tratos culturais não foram satisfatórios", diz João Roberto Pulit, da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Pelas suas estimativas, o Brasil deve colher cerca de 30 milhões de sacas na próxima safra.

Além dos tratos culturais, Joaquim Goulart de Andrade, gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda (Cooxupé), acrescenta que outro problema verificado foi o desenvolvimento de doenças, que provocou o desfolhamento e estresse das plantas. Com a seca, comum em algumas regiões do País nesta época do ano, a planta ficou ainda mais frágil. Segundo ele, entre 40% e 45% dos cafezais estão comprometidos e 25% devem ter floradas razoáveis. Com isso, a Cooxupé estima uma safra até 45% inferior, para uma média de 20% em anos de produções menores. O café é uma cultura que tradicionalmente produz mais em um ano do que no outro.

"As plantas estão no limite. Se não chover, iremos contabilizar perdas a cada semana", avalia Aguinaldo José de Lima, presidente da Associação de Produtores de Café do Cerrado. Segundo ele, em algumas regiões, mais ao Sul de Minas Gerais, as chuvas iniciaram, mas no Norte a situação está complicada, pois houve uma pequena precipitação não foi continuada. Sempre que chove, nesta época do desenvolvimento da planta, há estímulo da florada e, se sem continuidade na precipitação, os grãos são abortados.

"Mesmo estando maduro, sem água o grão não abre", explica Roberto Thomaziello, engenheiro agrônomo do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Além da falta de água, outro problema enfrentado é a temperatura alta. Segundo Thomaziello, alguns botões estão caindo antes mesmo de abrirem. Por isso, ele acredita que já há prejuízo para a flor, mas ainda é difícil de estimar. Para Thomaziello, as perdas serão melhores verificadas no final do ano.