Título: O software brasileiro mostra sua força
Autor: Ana Carolina Saito
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Tecnologia da Informação, p. 1
Fornecedoras nacionais de aplicativos de gestão empresarial e de inteligência de negócios enfrentam grandes multinacionais e conquistam uma fatia significativa do mercado interno. O mercado brasileiro de softwares aplicativos de gestão empresarial e inteligência de negócios, diferente do que acontece em outros países em desenvolvimento, abriga fornecedores locais capazes de competir com as principais multinacionais do setor. No Brasil e até em outros países da América Latina, empresas nacionais disputam - e, muitas vezes, ganham - contratos com gigantes como SAP, Oracle e PeopleSoft. "Dos países em desenvolvimento, o Brasil é o que fez frente a essas empresas internacionais. Na Argentina e México, elas não contam com tantos concorrentes locais. A Índia não tem um mercado interno forte", disse Álvaro Junckes, diretor da Logocenter, uma das quatro maiores fornecedoras brasileiras.
No ano passado, o mercado brasileiro de Enterprise Resource Planning (ERP) movimentou US$ 175 milhões. A alemã SAP se manteve na liderança, com uma fatia de 36,3% em 2003, uma pequena queda de 1,4 ponto percentual em relação a 2002. As principais fornecedoras brasileiras concentravam, juntas, 37,9% no ano passado, segundo dados da IDC Brasil, subsidiária da International Data Corporation (IDC). "O mercado brasileiro, por si só, garantiu o crescimento das empresas nacionais nos últimos anos", afirmou o presidente da Microsiga, Laércio Cosentino.
Entre 2002 e o ano passado, a catarinense Datasul, segunda colocada no ranking, ampliou sua participação de 9,8% para 11,5%. Na terceira posição, a paulista Microsiga é outra empresa local que conseguiu uma maior fatia do mercado, que passou de 9,7% para 11,1%. A mineira RM Sistemas, a quarta maior no segmento, permaneceu com 9,8% de market share. Essas três fornecedoras estão na frente de gigantes como PeopleSoft, Oracle e SSA.
Para 2004, a expectativa das brasileiras é de crescimento de 20% a 30%. A competição com as multinacionais tem sido acirrada, principalmente, no segmento de médias empresas. "Essas companhias são fortes nas grandes contas. Agora, estão tentando entrar nas médias", afirmou Jorge Steffens, CEO da Datasul.
Nesta disputa, no entanto, as fornecedoras nacionais estão levando vantagem, dizem os executivos. De cada dez contratos fechados com médias empresas no Brasil, oito ficam nas mão de uma das fornecedoras brasileiras, segundo Junckes. "Na média, 85% das empresas médias são de capital nacional e isso nos favorece", disse.
As barreiras para o avanço das gigantes são as particularidades das práticas de negócios e da legislação no Brasil. Outro fator que tem pesado na decisão de compra das empresas nacionais é o custo das soluções das multinacionais. "Já temos soluções voltadas para o negócio do cliente. Outro fator é o preço", disse o vice-presidente comercial e de marketing da RM Sistemas, Mauro Tunes Júnior.
Focada nas pequenas e médias empresas e verticais, a RM Sistemas vem disputando com multinacionais contratos na área de educação. Segundo Tunes, o preço da solução oferecida pela empresa chega a ser cinco vezes inferior ao da concorrente internacional. A RM, que lidera o segmento de aplicações de gestão para Recursos Humanos (RH), conquista cerca de 60 novas contas por mês e prevê um crescimento de 25% este ano. No ano passado, faturamento foi de R$ 93,8 milhões. "Setenta e três porcento das nossas vendas vêm por indicação de clientes da RM", afirmou.
As vendas de soluções de gestão de RH garantem cerca de 30% da receita da empresa. A área de educação representa 20% do faturamento. A RM Sistemas atua ainda nos segmentos de saúde e produção - cada uma dessas verticais respondem por 8% das vendas. Há 18 anos no mercado, é uma das empresas do setor que mais cresce. Com uma rede de mais de 40 revendas no País, atende mais de 19 mil empresas espalhadas pelo Brasil e tem filiais nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Uberlândia (MG), Ribeirão Preto (SP), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Além disso, mantêm unidades internacionais em Portugal e no México. "Estamos com trabalhando no México. Não há nenhuma empresa local concorrente lá. O mercado é dominado pela SAP", disse Tunes.
Especializada em software para gestão comercial, a paulista Gemco disputa no mercado interno grandes contas com SAP, Oracle e a americana JDA, líder mundial no segmento. Outra multinacional que está entrando no País é a Riteck. "A nossa vantagem é o foco. Oracle e SAP não são focadas e a JDA precisa de volume para tropicalizar a sua solução", disse o presidente da Gemco, Nelson Massud.
Entre seus clientes destacam-se empresas como Claro, Drogão, Dicico, Fotoptica, Fuji, Gradiente, Kodak, Makro, Magazine Luiza, Multibrás, Panashop, Reebok, Shell, Imec e Modelo. Neste ano, a Gemco ganhou cinco grandes contas. "Foram disputadas com multinacionais e a Gemco levou", afirmou Massud. Fundada em 1983, a empresa quer se tornar uma das principais empresas de software para gestão comercial na América Latina.