Título: "O Brasil tem boas..."
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Primeira Página, p. A-1
Antes disso, o ex-chefe do Comando Maior das Forças Armadas americanas veio ao Brasil quando ainda era soldado, afirmou durante um café da manhã realizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), em que estavam cerca de 200 pessoas, entre empresários, autoridades, acadêmicos e representantes de organizações não-governamentais. No início da tarde, Colin Powell, acompanhado por cerca de 20 pessoas, chegou a Brasília, onde se encontrou com o presidente Lula e com o chanceler Celso Amorim.
Durante o café da manhã, no qual discursou e respondeu a perguntas dos convidados, Powell afirmou que apesar de terem aparecido problemas que afetaram a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o governo de George W. Bush continua "100% comprometido" com a negociação. "É uma visão que levaremos para o próximo termo", afirmou, indicando, como não poderia deixar de ser, que acredita na vitória de Bush na eleição presidencial de 2 de novembro. Um dos obstáculos da negociação foi a questão agrícola, disse. Segundo diplomatas brasileiros, recentemente Washington sinalizou que o assunto só será retomado após a eleição. A data para finalizar a negociação era dezembro deste ano, mas os dois lados já indicaram não acreditar mais nesse prazo.
Sobre a questão nuclear, Powell afirmou que o governo norte-americano sabe que o Brasil não é um potencial proliferador de armas nucleares. "Não estou preocupado com isso." A questão do acesso da AIEA ao sistema de enriquecimento de urânio em Resende, é entre o Brasil e a agência, completou. Uma equipe da AIEA estará no País em duas semanas e o governo quer limitar o acesso à produção do urânio enriquecido, para evitar que a tecnologia seja copiada.
Por duas vezes em seu discurso, o secretário de Estado citou a competência da agricultura brasileira. Disse que Brasil e EUA, "como produtores bem sucedidos de alimentos, tem mais do que a obrigação" de dividir suas tecnologia e práticas com nações necessitadas, em que há fome. E afirmou que "o potencial agrícola do Brasil faz do País uma super potência agrícola."
Para Mário Presser, coordenador do curso de Diplomacia Econômica da Universidade de Campinas (Unicamp), o discurso de 25 minutos de Powell confirmou que houve algum tipo de entendimento entre Brasil e EUA, relacionando a liderança do Brasil na missão de paz da ONU no Haiti, e um eventual apoio caso o Conselho de Segurança seja reformado e abra espaço para mais membros permanentes. Para ele, as declarações sobre a capacidade agrícola do País indicam que, na visão de Washington, o Brasil não deve mais ser visto como um país em desenvolvimento em negociações internacionais comerciais. Perder esse status implicaria, por exemplo, na necessidade de dar mais abertura do mercado brasileiro.
O secretário Powell elogiou o papel de liderança que o Brasil vem tendo na América do Sul. Citou a atuação na crise do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez e na Bolívia, no ano passado. Afirmou ainda que o governo Bush compartilha com o governo Lula da visão de que a busca por melhores condições sociais são importantes. Também elogiou a condução da política econômica pelo governo. Sobre a competição do Brasil com países como a China, disse que o poder econômico cada vez ganha mais importância em relação ao militar e político.
Colin Powell desembarcou em Brasília no início da tarde de ontem e teve um encontro com jovens na embaixada dos Estados Unidos, foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais tarde reuniu-se com a equipe do Itamaraty.