Título: O potencial do software brasileiro
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Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Opinião, p. A-3
Na luta de vida e morte da competição, as grandes empresas do mundo estão descobrindo as vantagens, para elevar seus lucros, do outsourcing, ou da terceirização em países de custos mais reduzidos, principalmente com mão-de-obra mais barata, mas de qualidade. E isso já está causando problemas em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e integrantes da União Européia, que temem o desemprego interno e discutem a mobilidade dos empregos num mundo globalizado.
Na prática, milhares de postos de trabalho estão sendo eliminados nos países desenvolvidos e criados em países emergentes, principalmente da Ásia. Essa transferência em nível mundial de empregos observa-se, principalmente, nos setores da microeletrônica e da Tecnologia da Informação (TI).
Além dos velhos tigres asiáticos, que construíram seu rápido desenvolvimento com base em investimentos em tecnologias de ponta, outros países, reunidos recentemente no grupo de economias emergentes chamado de Bric ¿ Brasil, Rússia, Índia e China, também podem tirar vantagem dessa tendência, principalmente o Brasil, a Índia e a China.
Embora o mercado brasileiro de software seja maior e mais diversificado do que o da Índia, o Brasil, entretanto, ainda não se transformou num pólo efetivo de exportação, conforme constatou estudo realizado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) para a Sociedade Brasileira para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) em 2002.
Se boas intenções valerem, a meta do governo brasileiro para 2007 é atingir exportações de software e serviços tecnológicos da ordem de US$ 2 bilhões. Um grande salto à frente, mais próprio para feitos chineses do que para nossa economia em processo de crescimento, uma vez que as exportações do País nesse setor, no ano passado, ficaram em meros US$ 200 milhões, o que vem gerando saldos negativos na balança comercial brasileira da ordem de US$ 800 milhões anuais, nos últimos anos. Considerado todo o setor de informática, o déficit é ainda maior, de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões por ano.
Até agora, o Brasil perdeu espaço para outros dois integrantes do Bric. A Índia está disparada na frente, com exportações de US$ 10 bilhões por ano em software e serviços, embora não tenha um mercado interno tão grande como o do Brasil. E a China entrou na corrida atropelando quem estava na frente e, em 2002, já exportava US$ 400 milhões.
O Brasil, entretanto, tem condições de se destacar nesse cenário internacional. É o sétimo mercado do mundo em software, incluindo produtos e serviços, com faturamento de US$ 7,7 bilhões em 2001, segundo o estudo do MIT. O universo do setor de TI no País é de cerca de 11 mil empresas, das quais aproximadamente 5 mil são desenvolvedoras de software. Além disso, o Brasil dispõe de tecnologia própria em quase todos os segmentos de software, com destaque especial para alguns nichos de mercado, como telecomunicações, automação industrial, ERP, automação bancária e sistema financeiro, do qual o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) é o melhor e mais eficiente exemplo. Sem falar em dois setores em que o País é destaque internacional: no internet banking e no voto eletrônico, que nestas últimas eleições municipais mais uma vez deu mostra de sua eficiência e rapidez na apuração. E tudo feito com criatividade.
Um grande trunfo do Brasil é o preço da mão-de-obra, o que torna o País mercado competitivo em relação aos Estados Unidos e Europa. O custo de um desenvolvedor de software no Brasil corresponde a 20% do de seu equivalente norte-americano; enquanto na Índia é de 25% e na Irlanda, de 32%.
Uma prova da qualidade e competitividade do Brasil é o desempenho de empresas brasileiras no mercado nacional de softwares de gestão empresarial (ERP) e de inteligência de negócios, de acordo com o caderno TI publicado nesta terça-feira por este jornal. No ano passado, só esse mercado movimentou US$ 175 milhões.
Embora as multinacionais de ERP em geral consigam contratos com as grandes empresas, em razão de contratos entre as matrizes no exterior, no segmento das médias empresas, muitas firmas brasileiras competem no mesmo nível. E levam os contratos. Em 2003, as principais fornecedoras brasileiras de ERP tinham 37,9% do mercado, em que a líder é a alemã SAP, com 36,3%. E a expectativa das empresas nacionais para este ano é um crescimento de até 30%.
Para que o Brasil atinja a meta de exportações de US$ 2 bilhões em 2007, é preciso antes expandir o mercado interno e, para isso, é importante reduzir a exclusão digital, que atinge também as pequenas empresas. kicker: O Brasil dispõe de tecnologia própria em quase todos os segmentos de software, com destaque para alguns nichos