Título: Só desenvolvimento não basta
Autor: Braulio Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Opinião, p. A-3

Crescimento econômico não é fórmula mágica nem um fim em si mesmo. O relacionamento entre o crescimento econômico e a prosperidade social é inegável. O meio acadêmico, os políticos, o governo, o empresariado e a população de maneira geral entendem a necessidade de a economia crescer. Mas será que isso basta? Será que o aspecto econômico é realmente um antídoto milagroso capaz de resolver os gritantes problemas de nossa sociedade? Observemos uns poucos indicadores qualitativos que diariamente tomamos conhecimento e/ou vivenciamos, antes que possamos responder estas questões:

Crianças tomam os faróis das grandes cidades; milhares de jovens e adultos perambulam de porta em porta em busca de trabalho que lhes dêem muito menos do que a dignidade: apenas um prato de comida; pedintes, indigentes e mendigos se aglomeram nos escassos "centros de solidariedade" em busca de alimentação e de um local seguro para repousarem; jovens e adultos sem perspectivas, que não conseguem resistir aos fados que lhes são impostos por políticas equivocadas e inconseqüentes engordam os números da crescente violência; milhares de brasileiros deixam o País a cada ano, fugindo da injustiça social, baixos salários e poder aquisitivo em declínio, em busca de oportunidades.

É certo que o crescimento econômico, ao gerar empregos, gera melhorias significativas em todos esses indicadores apresentados.

É errado, porém, acreditar que os problemas sociais são, com isso, solucionados. Infelizmente, os esforços são empreendidos em prol da busca daquela que seria a dimensão salvadora, que muitos crêem que possui um fim em si mesma.

Essa visão míope desconsidera que, embora indivíduos desempregados passem a ter um meio de sustento, sua condição em termos de competência e de conhecimento não foi alterada, assim como a das empresas também não foi e, pior que isso, não será.

Então, à medida que são desconsiderados os problemas estruturais da sociedade, por conta de uma maquiagem naturalmente ocasionada pelo crescimento econômico, que parece tornar os governantes, os políticos e os empresários míopes e desinteressados, as fragilidades vão aumentando, trazendo conseqüências devastadoras.

O crescimento econômico não é, portanto, uma fórmula mágica nem tampouco um fim em si mesmo. Ele deve ser responsável por criar condições para que os problemas estruturais da sociedade, tais como o transporte, a educação, a saúde, a segurança pública, o financiamento da produção, a agregação de valor aos nossos produtos, a busca de um tratamento eqüitativo por parte dos outros países no que tange aos nossos produtos e a abertura de mercados estrangeiros, sejam atacados de frente, com competência - o que esperamos que seja realizado em detrimento de políticas meramente assistencialistas.

Enquanto essa não for a abordagem, continuaremos submissos aos fluxos de capitais e aos organismos multilaterais de crédito, tentando explicar ao nosso povo que ele só pode se alimentar quando o País cresce.

kicker: Os problemas estruturais da sociedade brasileira não podem ser desconsiderados