Título: Dados mostram recuo da inflação
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Mesmo com melhora nos índices, analistas acreditam que BC deve elevar a taxa Selic. Os indicadores de inflação divulgados ontem surpreenderam positivamente o mercado, mas não devem ser suficientes para que o Banco Central altere a trajetória anunciada de aperto na política monetária. Os dados sobre inflação em setembro da Fundação Getúlio Vargas/SP e da Fipe - IPC de 0,26% e de 0,21%, respectivamente - mostram desaceleração dos preços. Segundo analistas, embora do ponto de vista técnico não exista a necessidade de elevar a Selic, esta não deve ser a posição do Comitê de Política Monetária (Copom).

O motivo seria a necessidade de manter a relação de "confiança" estabelecida entre o BC e o mercado. "Os números divulgados abrem espaço para que se discuta a necessidade de se elevar a Selic, mas é improvável que o BC altere o que tinha anunciado", diz o economista Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da corretora NGO. "É como se o BC tivesse apalavrado que elevaria a Selic e o mercado precificado isto.

A mudança nos rumos da Selic também é considerada pouco provável pela consultoria GlobalInvest. Segundo relatório da empresa, "hoje, as variáveis que norteiam as decisões sobre taxa de juros indicam que a autoridade monetária deveria optar pela manutenção da Selic em 16,25%". No entanto, segundo a consultoria, a taxa deve ser elevada em "apenas" 0,25 ponto percentual, citando alguns fatores que explicariam a decisão, entre eles "declarações de Henrique Meirelles de que não se pode cometer o mesmo erro do passado, o que significa combater a inflação em primeiro plano".

O dia de ontem também foi marcado por uma discreta recuperação do câmbio, depois de duas quedas sucessivas. O dólar comercial registrou uma valorização de 0,14% e fechou vendido a R$ 2,83. Nem mesmo o novo recorde histórico dos preços do petróleo - WTI fechou em Nova York em US$ 51,09 - alterou muito o mercado de câmbio. O fluxo positivo da moeda ajudou a minimizar a pressão no câmbio.

"A tendência no curto prazo continua de desvalorização do dólar por conta da maior entrada de recursos captados por empresas e exportadores", diz a diretora da corretora AGK, Miriam Tavares. "Além disso, muita gente está se desfazendo de seus dólares prevendo uma queda ainda maior na cotação, o que ajuda a derrubar a moeda."

Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), os contratos com vencimento em abril de 2005, os mais líquidos movimentando R$ 11,4 bilhões, fecharam com juro anualizado de 17,05%, uma queda de 0,03 ponto percentual. O risco-país ficou em 445,06 pontos, um leve recuo de 0,08%. Já o C-Bond se desvalorizou 0,31%, negociado a 99,875% do valor de face.

Confirmando expectativas do mercado, o BC anunciou ontem que decidiu resgatar a dívida cambial de US$ 1,8 bilhão na próxima semana. No mercado, a avaliação já era de que o BC não renovaria a dívida por conta da baixa demanda por hedge e da política de redução da parcela da dívida atrelada ao dólar.