Título: Monopólio restringe investimento
Autor: Denise Bueno
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Finanças, p. B-2

Seguradoras estrangeiras aportarão mais capital no Brasil se o resseguro for aberto. A participação das seguradoras estrangeiras no Brasil teria um forte impacto positivo se o mercado de resseguros, hoje nas mãos do IRB Brasil RE, fosse aberto. "Com certeza muitos grupos iriam aumentar o capital das suas subsidiárias brasileiras para que elas pudessem assumir um risco maior dos contratos negociados no Brasil", comentou Walter Polido, executivo do escritório local da alemã Munich Re, maior resseguradora do mundo. "Realmente seria um forte argumento para conseguirmos aumento de capital", acrescentou Alessandro Jarzynski, presidente da subsidiária brasileira do grupo australiano QBE. Segundo fontes do governo, o assunto "abertura do resseguro" só deverá ser tratado em 2005 para uma eventual abertura em 2006.

Os executivos, bem como outros quinze, estiveram ontem reunidos no almoço mensal promovido pelo "Grupo do Sotaque". "O grupo existe há mais de 30 anos. É uma reunião informal, que visa levantar discussões de interesse de todos no mercado de seguros e de resseguros, sejam estrangeiros ou brasileiros", explicou Pedro Purm, presidente da Zurich Seguros e atual organizador das reuniões.Entre as pautas já organizadas pelo Grupo estão as novas normas do seguro obrigatório DPVAT. Até então, todas as seguradoras tinham de participar do pool. "Agora há regras de saída e é possível optar se há interesse ou não de participar", explicou Purm. Outra discussão que teve início nas reuniões mensais foram as multas aplicadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Geralmente o grupo escolhe um personagem ilustre do mercado para debater determinado assunto. Neste último encontro, apenas a imprensa foi convidada. No penúltimo, os executivos convidaram um advogado para discutirem a nova legislação do setor de seguros que está na pauta do governo. "Podemos contribuir muito, pois apesar das normas de auto-regulamentação estarem sendo elaboradas agora no Brasil, nos já temos de seguir o padrão internacional de solvência, de auditoria, de aplicação de ativos, de relação comercial com clientes há anos", comentou Purm.

Um dos problemas enfrentados pelas companhias estrangeiras no País é ter um canal de distribuição que faça frente à concorrência do bancassurance, ou seja, os seguros vendidos pelos bancos nas agências. "Temos uma grande lacuna que foi deixada pela especialização das companhias na venda para o varejo. Há muito espaço para as seguradoras especializadas em segmentos diferenciados", comentou Luiz Carlos Del Boni Magalhães, da XL Insurance.

Segundo Paulo Marracini, membro do conselho da AGF Seguros e presidente do Sindicato das Seguradoras do Estado de São Paulo, a especialização da seguradora e do corretor conta muitos pontos na conquista de clientes. "Temos de aproveitar o suporte da nossa matriz. Nos, da AGF, por exemplo, estamos investindo constantemente em treinamento dos nossos funcionários, que passam um tempo na matriz para absorver a experiência que o grupo tem de operar em todo o mundo", comentou.

A participação do capital estrangeiro no Brasil vem crescendo desde 1997, quando a legislação passou a permitir capital estrangeiro no mercado segurador. Em 1996, a participação das empresas estrangeiras no faturamento do setor foi de 6,33%; em 2003, elas detinham 27%. No primeiro semestre deste ano, segundo recente publicação da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização), a participação das estrangeiras era de 31,44%. Considerando-se os segmentos, a área de previdência privada é que tem maior peso, com 35,93%, seguida pela de seguros, com 33,22% e capitalização com 14,56%.

Mais de 30 estrangeiras têm participação no mercado brasileiro, destacando-se as holandesas (com quase 40% do bolo das estrangeiras), seguidas pelas americanas, francesas, espanholas, japonesas e italianas. Há poucas notícias sobre uma nova onda de fusões no mercado de seguros do Brasil. Mas há negociações de peso em andamento.