Título: Plantio da safra de grãos está atrasado
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Agribusiness, p. B-12
A demora das chuvas, a dificuldade na obtenção de crédito e os preços baixos das commodities fizeram com que os produtores adiassem o plantio de grãos em algumas regiões do País. Esse é o caso da soja e do milho no Centro-Sul e do feijão e do arroz no Sul do País.
No Rio Grande do Sul, a seca foi o principal fator para o atraso do plantio de arroz, sobretudo no oeste - onde os níveis das barragens estão baixos -. A região oeste responder por 30% da safra gaúcha de arroz. Apesar do atraso, não deve haver problemas de produtividade, pois o grão ainda está seguindo seu calendário de plantio, diz o analista Aldo Lobo, da Safras & Mercado.
No entanto, como as barragens estão em níveis mais baixos do que o esperado para esta época do ano, estima-se uma redução de até 7% da área cultivada com arroz.
No Centro-Sul, a falta de chuvas está afetando o plantio de milho e soja, mas lá o fator determinante tem sido o atraso na liberação do crédito oficial. "Com a alta do preço dos insumos e as projeções de preços futuros menores, todos os produtores ficaram sem saber o que fazer e atrasaram o plantio", afirma Daniel Dias, analista da FNP Consultoria.
Em Mato Grosso do Sul, apenas 2% do milho foi cultivado, para uma média de 18% nesta época do ano, segundo a Safras & Mercado. O cultivo está atrasado em São Paulo e Goiás, onde foi plantada apenas 2% da área, para uma média de até 25% em 2003. "Está faltando chuva para o preparo do solo e o início do plantio", afirma Anderson Cesconetto, técnico da Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul).
Centro-Oeste e Sudeste
"Em geral o cultivo está atrasado, principalmente no Centro-Oeste e Sudeste", afirma Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. Apesar de mais avançado, o plantio de milho no Rio Grande do Sul está em 43%, frente a 62% no mesmo período do ano passado e, no Paraná é de 12% ante 35% registrados em igual período do ano passado.
Segundo Molinari, o atraso no plantio poderá resultar em uma colheita tardia, em perdas de produtividade e até inviabilizar o plantio da safrinha, que é feito dentro de uma janela de tempo recomendada para o plantio da safra.
Além da demora nas chuvas, outro problema que está afetando o produtor é o preço baixo do milho, cotado atualmente a R$ 15,50 a saca na Paraná, para um custo de produção próximo a R$ 13 a saca. Segundo o analista, há pressão de venda, pois o produtor precisa desse recurso para financiar a safra. Dias acredita que haverá uma migração do milho para soja, resultando em uma queda de área de até 7% no cultivo de primeira safra.
Plantio da soja prossegue
Para a soja, segundo os analistas de mercado, o cultivo pode ser considerado normal, uma vez que no Centro-Oeste 5% já foi plantado. Historicamente, o período mais forte para o plantio é a segunda quinzena deste mês. "Estamos no início de outubro, por isso ainda não há nada grave", afirma Carlos Cogo, da Cogo Consultoria Agroeconômica.
Segundo Valdenir José dos Santos, técnico da Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso (Famato), os produtores de soja estão mais receosos com relação aos riscos por causa da menor rentabilidade, uma vez que os custos estão mais altos. Em Goiás, de acordo com a consultoria Solo Brazil, praticamente ainda não há cultivo do grão. "As chuvas ainda não chegaram ou estão muito irregulares", afirma Adriano Vendeth de Carvalho, da Solo Brazil.
Carlos Mazurik, da Safras & Mercado, diz que o feijão sofreu atraso no plantio no Sul do País em virtude dos problemas climáticos e dos preços do produto que chegaram a patamares próximos aos de garantia do governo. Até o momento 29% da área foi cultivada no País. Mazurik afirma que em algumas regiões os produtores correm risco de plantar fora do período recomendado, caso não chova forte nos próximos dias.