Título: Círio gera empregos em Belém
Autor: Raimundo José Pinto
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14

Esta é a época do ano que mais movimenta a economia da capital paraense. A cidade toda vive o clima do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que tem na grande procissão do próximo domingo, a maior do Brasil e uma das maiores do mundo, o seu ponto maior. São entre 1,8 milhão e 2 milhões de pessoas que acompanham a procissão ou assistem a sua passagem, mais do que a população da cidade. Hoje já é difícil conseguir passagem nos vôos que chegam a Belém e hospedagem em seus hotéis.

O economista Roberto Sena, coordenador local do Dieese - Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-econômicas, afirma que o Círio tem grande importância econômica para o Pará, pois movimenta todos os seus setores produtivos, do comércio à indústria, passando por serviços e pelo turismo, sendo um grande gerador de emprego, mesmo que temporário em sua maior parte.

Só os gastos com a organização do Círio estão estimados em pouco mais de R$ 1 milhão, de acordo com cálculo feito pela chamada Diretoria da Festa, em conjunto com o Dieese. Será o mais elevado dos últimos dez anos, 6,47% acima dos gastos do ano passado, que ficaram em R$ 971.900. São despesas com evangelização, com as diversas procissões que fazem parte da festividade, com marketing, com a decoração do Círio, a sonorização no trajeto das procissões, os fogos de artifício, entre muitas outras. A maior parte dessas despesas é coberta pelos patrocinadores, com destaque para o governo do estado e a prefeitura de Belém.

Este ano o Círio de Nazaré está completando 211 anos, embora a devoção pela santa no Pará tenha sua origem em 1700, quando um caboclo chamado Plácido encontrou a pequena imagem na beira de um igarapé, no mesmo local onde está erguida hoje a Basílica de Nazaré. Mas a primeira procissão ocorreu em 1793, quando o governador português Francisco de Souza Coutinho decidiu organizar uma festa pública para divulgar a devoção dos fiéis. Inicialmente ela era realizada em setembro, passando para todo segundo domingo de outubro a partir de 1900.

Novidades

A grande novidade este ano é que o Círio de Nossa Senhora de Nazaré foi reconhecido como bem cultural de natureza imaterial pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com aprovação unânime do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural na semana passada, graças a um inventário de referências culturais iniciado em 2001. Trata-se da primeira manifestação a conseguir o registro na categoria "celebração".

A série de procissões que integram o Círio começa na tarde desta sexta-feira, quando a imagem da santa segue da Basílica de Nazaré para a igreja matriz de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, num percurso de 40 quilômetros. No sábado, bem cedo, ela vai na chamada Romaria Rodoviária num trajeto de 24 quilômetros até o trapiche do distrito de Icoaraci. Ali começa a Romaria Fluvial, iniciada em 1986. A santa é colocada numa embarcação e percorre em torno de 10 milhas pela baia de Guajará até o cais do porte de Belém, acompanhada por mais de 500 embarcações, de todos os tipos e tamanhos.

Por volta do meio-dia uma nova procissão, desta vez integrada por milhares de motoqueiros, leva a imagem até à capela do Colégio Gentil Bittencourt, às proximidades da Basílica. No sábado à noite é a vez da procissão da Trasladação, que sai do colégio até a Catedral Metropolitana, fazendo o trajeto inverso da grande procissão do domingo. Na manhã de domingo, depois de uma missa, às 7 horas a multidão dá início à procissão do Círio, que vai percorrer 4,5 quilômetros de ruas no centro de Belém até o santuário, em frente à Basílica. Essa procissão dura em torno de cinco horas.

Um dos principais símbolos do Círio é a corda, que começou a ser usada quando as ruas de Belém não eram asfaltadas e viravam grandes atoleiros com as cheias da baía do Guajará. Ela servia para puxar, com a ajuda de bois, a berlinda com a imagem da santa. Com o tempo, a corda foi incorporada como motivo de pagamento de promessa.

São centenas de pessoas que se espremem para segurar na corda, num enorme sacrifício que geralmente termina com ferimentos nos pés e nas mãos.

Quando a procissão termina, no início da tarde, chega o momento de outra grande tradição: o almoço do Círio. As famílias se reúnem em torno da mesa, como na ceia de Natal, para comer os pratos tradicionais da época, principalmente o pato-no-tucupi e a maniçoba. Depois, por 15 dias, acontece uma série de festividades numa área ao lado da Basílica, com brinquedos, artesanatos e comidas típicas.