Título: CIA: Iraque não tinha armas químicas
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Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2004, Internacional, p. A-9

Relatório oficial divulgado ontem mina a tese do presidente Bush, para justificar invasão do país. O Iraque não possuía estoques de armas químicas e biológicas e seu programa de desenvolvimento de armas nucleares estava em declínio em março de 2003, afirmou a CIA em relatório divulgado ontem, que mina a tese central apresentada pelo governo Bush para justificar a invasão do país.

O presidente iraquiano Saddam Hussein nunca abandonou sua ambição de desenvolver armas, segundo o relatório. O esforço de pesquisa e desenvolvimento foi interrompido na tentativa de convencer as Nações Unidas a suspender as sanções impostas depois da Guerra do Golfe de 1991, afirmou Charles Duelfer, assessor especial do diretor da CIA para armas de destruição em massa, à Comissão de Serviços Armados do Senado em depoimento sobre o relatório.

"A análise mostra que, apesar do expresso desejo de Saddam de conservar os conhecimentos de sua equipe nuclear e de suas tentativas de reter algumas partes-chave do programa, no decorrer dos 12 meses seguintes, a capacidade do Iraque de produzir uma arma nuclear decaiu", disse Duelfer.

Relatório contradiz Bush

O relatório de 1.300 páginas de Duelfer contradiz as asserções do presidente norte-americano George W. Bush e do vice-presidente Dick Cheney para justificar a invasão do Iraque em março de 2003. Cheney declarou em um discurso em agosto de 2002 que "sabemos que Saddam retomou seus esforços para adquirir armas nucleares". Mike McCurry, assessor do candidato presidencial democrata John Kerry, afirmou que o relatório da CIA é "um comentário muito significativo sobre a justificativa errônea para a guerra".

Duelfer disse que Saddam demonstrou a intenção de reiniciar um programa nuclear ao proibir a partida de cientistas iraquianos e ao mantê-los empregados em outras áreas governamentais que poderiam ser aplicadas a trabalhos nucleares futuros. "Esses esforços não podem ser vinculados explicitamente a uma intenção de reativar um programa de armas", afirmou. O relatório se baseia em análise do Grupo de Pesquisa Iraquiana da Agência de Inteligência da Defesa criada em abril de 2003 para descobrir armas que eram esperadas antes da guerra.

O texto cita países e companhias que venderam ao Iraque tecnologia de armas em violação às resoluções das Nações Unidas. Os investigadores descobriram que a receita obtida pelo Iraque com o programa de troca de petróleo por alimentos da ONU foi direcionada à comissão industrial militar responsável por compras clandestinas de armas e tecnologia, segundo Duelfer.

As verbas disponíveis aumentaram de US$ 7,8 milhões em 1998 para US$ 350 milhões em 2001, disse Duelfer. "Durante esse período muitos programas militares foram realizados - incluindo muitos que envolviam exportações voluntárias para o Iraque de itens militares proibidos pelo Conselho de Segurança da ONU", afirmou.

Blair também insiste

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que está em visita à Etiópia, disse ontem que o relatório da CIA sobre inspeção de armas no Iraque demonstrou que as sanções da ONU contra Saddam Hussein não estavam funcionando. Blair disse que o relatório final do caçador de armas, Charles Duelfer, demonstra que Saddam estava "se esforçando ao máximo" para contornar as sanções. Há meses o líder britânico tenta se justificar, ante as pesadas críticas de alguns colegas de seu Partido Trabalhista.