Título: Bush defende a invasão e ataca Kerry
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2004, Internacional, p. A-9

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez ontem um duro ataque contra seu adversário na eleição de 2 de novembro, o democrata John Kerry, acusando-o de ter uma "estratégia de recuo" e dizendo que a guerra no Iraque se justificava porque Saddam Hussein poderia ter transferido informação - se não armas - para terroristas. No ataque mais agressivo ao senador por Massachusetts, na questão do Iraque e do combate ao terrorismo, Bush deu uma prévia da posição que pretende assumir no segundo debate presidencial, que acontece na sexta-feira, dia 8 de outubro, em St. Louis.

"Como candidato, meu oponente promete defender os EUA. O problema é que, como senador por duas décadas, ele construiu um histórico de fraqueza", disse Bush, que acusou Kerry de ter uma mentalidade pré-11/9, que adiaria uma ação militar até que fosse tarde demais.

"No Iraque, o senador Kerry tem uma estratégia de recuo; eu tenho uma estratégia de vitória". O porta-voz da campanha de Kerry, Phil Singer, disse que o novo ataque de Bush era um sinal de "desespero" e que o presidente estava tentando "reeditar o debate da semana passada, fazendo um discurso cheio de inverdades que ele não poderia dizer diante de John Kerry, pois sabe que Kerry as derrubaria".

"Uma boa olhada no mundo"

As declarações de Bush sobre a potencial transmissão de informações sobre armas para terroristas, pelo Iraque, são um recuo em relação aos estoques de armas previamente citados pelo presidente. Ele disse que deu uma "boa olhada" no mundo para ver onde os terroristas poderiam obter armas de destruição em massa, e concluiu que "um regime se sobressaía": o de Saddam.

O tema do discurso de Bush em Wilkes-Barre, na Pensilvânia, um Estado ainda indefinido, foi trocado de última hora - de política de saúde para a guerra contra o terror -, depois que o desempenho de Kerry no debate da semana passada fez sumir a vantagem de Bush nas pesquisas. O próximo debate, na sexta-feira, tem tema livre.

"Corrigir o problema"

O candidato a vice-presidente pelos democratas, John Edwards, afirmou no debate contra o vice-presidente Dick Cheney, que o presidente está "completamente fora da realidade". Ontem, em campanha em West Palm Beach, Flórida, Edwards renovou sua crítica de que Bush e Cheney não vão admitir a "desordem no Iraque" ou se preocuparem com empregos e com a economia. "Você não pode corrigir esses problemas antes de reconhecer que é um problema", disse Edwards.

As pesquisas após o debate foram divididas. Cheney saiu-se melhor em uma pesquisa da "ABC News" entre um grupo de inclinação republicana de eleitores registrados que assistiram o debate, com 43% dando vantagem a Cheney, enquanto 35% disseram que Edwards venceu.

O senador democrata foi visto de modo mais positivo por 178 eleitores indecisos entrevistados pela "CBS News": 41% acharam que ele venceu e 28% que Cheney foi o vencedor.

Já a corrida para a presidência está praticamente empatada: sete entre nove pesquisas demonstraram que isso se verifica, em termos estatísticos, depois do debate de 30 de setembro que, segundo a audiência, foi vencido por Kerry. Duas pesquisas, da ABC News e Pew Research Center, mostraram que Bush lidera a corrida. Pesquisas na Flórida, New Hampshire, Novo México e Nova Jersey, divulgadas ontem, apresentam Kerry vencendo.

O atual presidente tentou compensar "algumas das oportunidades perdidas que não explorou no debate", disse Greg Valliere, principal estrategista político da Schwab Soundview Capital Markets, em Washington. "Será esse discurso um sinal de que os articuladores da campanha de Bush acham que estão em perigo? Pode ser."