Título: Alpargatas investe em tênis de alta tecnologia para ganhar mercado
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2004, Indústria & Serviços, p. A-11

A brasileira São Paulo Alpargatas anunciou ontem uma nova estratégia para ganhar maior participação no mercado interno de tênis e também aumentar as exportações da marca Topper. A empresa tem investido no aperfeiçoamento da sua tecnologia antiimpacto Dynatech e está lançando quatro modelos com esses avanços, além de apresentarem design mais arrojado. Os tênis são elaborados para a prática de futebol, mas a empresa quer também conquistar o consumidor casual.

Segundo o gerente de marketing da marca Topper, Marcelo Ciarelli, os novos produtos vão disputar um mercado considerado "premium", mais sofisticado em tecnologia. A marca vai concorrer com multinacionais, como Nike e Adidas, tanto no mercado interno como no externo, onde pretende dobrar o faturamento (não revelado) já em 2005.

Atualmente as vendas externas representam 5% da receita com a marca. Ciarelli disse que o Japão e os Estados Unidos respondem por 95% das exportações da Topper. A meta, segundo o executivo, é incrementar as vendas nesses mercados e expandir sua participação em países europeus e asiáticos. "Queremos obter lá fora, em quatro anos, o mesmo faturamento que a Topper obtém no mercado interno. E isso não será difícil, porque temos uma marca vinculada ao futebol. A `grife Brasil¿ também está sendo muito aceita na moda mundial". A Alpargatas exporta as sandálias Havaianas para mais de 60 países, mas o executivo não tem definido ainda se haverá aproveitamento dessa sinergia.

"São produtos muito diferentes", disse. Segundo ele, o planejamento de aumento das exportações ainda está em elaboração e será concluído até o final do ano.

Com os novos modelos, a Alpargatas também quer aumentar em cerca de 12% a receita obtida com a marca no mercado interno este ano e em até 25% em 2005, disse Ciarelli. O crescimento é explicado pelo maior valor dos produtos. A linha Dynatech Visible, como é denominada a tecnologia dos novos tênis, eleva em até 25% os preços médios da marca que chega ao mercado custando entre R$ 80 e R$ 140. Somente neste último trimestre, a receita deverá subir 30% em relação ao mesmo período de 2003, estima o executivo. "Toda a produção até o final do ano já foi vendida."

Baseado em dados do Ibope, Ciarelli disse que o mercado brasileiro de calçados esportivos é de aproximadamente 100 milhões de pares por ano, e cerca de R$ 5 bilhões e tem mantido crescimento vegetativo nos últimos dois anos. "O setor é altamente competitivo e para ganhar mercado temos de ganhar a participação dos concorrentes." A Topper diz deter 4% de participação nesse mercado, em volume, e a expectativa é conquistar mais um ponto percentual até o final do próximo ano.

Os tênis com a marca Topper são produzidos em duas unidades fabris - Natal e Santa Rita (PB) - que operam com cerca de 80% da capacidade instalada e 100% de aproveitamento da mão-de-obra. Os modelos com maior valor agregado representam hoje em torno de 15% da produção total de Topper e, com a linha Dynatech, a companhia pretende elevar essa participação para 30% em 2005. Para atender as estimativas de crescimento nas vendas internas e externas, a Alpargatas estuda investimentos na ampliação das linhas de produção ou em nova fábrica. "Entretanto, não estão descartadas outras possibilidades, como a terceirização da fabricação até fora do Brasil", disse Ciarelli.

A unidade de Santa Rita, a 16 quilômetros de João Pessoa, concentra 90% da produção da Topper e um projeto de expansão para atender à nova demanda, incluindo a aquisição de equipamentos, pode absorver até 4% do faturamento anual da marca, segundo o gerente da fábrica de Santa Rita, Carlos Henrique de Amorim. Somente com modernização e manutenção, são investidos anualmente na unidade entre 2,5% e 3% da receita anual.

Essa última evolução da tecnologia Dynatech começou a ser desenhada no final do ano passado no Centro de Desenvolvimento de produtos Topper e Rainha (outra marca de tênis da Alpargatas), em Natal. Ela consiste em incorporar ao solado do tênis a tecnologia Dynatech, antes implantada somente nas palmilhas da linha Topper. Além disso, conforme explicou o gerente de pesquisa e desenvolvimento, Luís Glauco de Martin, ela ocupa uma área maior do calcanhar e também está aplicada na parte da frente do solado. Outro diferencial são os novos materiais empregados.

São dois os tipos de produção dos tênis Topper que incorporam a nova tecnologia. A aplicação do Dynatech no processo de produção por autoclave - em que o solado é unido ao cabedal por vulcanização - segundo Ciarelli, é pioneira no mercado e é a que possibilita oferecer um produto com valor agregado e preço mais baixo que os dos concorrentes no mercado, já que o custo de produção é menor. No processo cimentado, utilizado por fabricantes que agregam tecnologia aos calçados e que atualmente representa 35% da produção total de Topper, o solado é colado ao cabedal, mas seu custo de produção é cerca de 25% maior do que o de autoclave. A São Paulo Alpargatas já colocou no mercado modelos de Visible fabricados por meio de autoclave e até o final de outubro vai vender os modelos cimentados.