Título: A Vasp enfrenta sua crise mais grave
Autor: Roberto Manera
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2004, Transporte & Logística, p. A-16

Sob ameaça de falência, a companhia paulista teve suas ações suspensas pela Bovespa. O pedido de falência ajuizado anteontem por duas empresas do grupo General Electric, a ameaça da Infraero de fechar os aeroportos sob seu controle aos aviões da companhia e o anúncio da Bolsa de Valores de São Paulo, da suspensão dos negócios com ações da Vasp, elevaram a níveis insustentáveis as pressões do mercado sobre a companhia aérea paulista controlada por Wagner Canhedo. Com seis aviões Boeing 737-200 proibidos de voar pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), por terem tido seus certificados de aeronavegabilidade revogados a pedido da fabricante Boeing Company, sob a justificativa de terem os aparelhos esgotado sua vida útil, a Vasp recebeu ontem a visita de um oficial de justiça encarregado de citar a empresa no pedido de falência ajuizado pelo escritório Manhães Moreira Advogados Associados, para suas clientes GE Celma e GE Varig Engine Services, ambas pertencentes à multinacional norte-americana General Electric. O pedido de falência refere-se a dívidas não pagas no valor de R$ 9,126 milhões e a companhia aérea tem o prazo de 24 horas para pagar ou depositar em caução, para ter direito ao prazo de 5 dias para contestação do pedido. Apesar de ter requisitado ajuda policial para ter acesso ao prédio da Vasp no Aeroporto de Congonhas, o oficial de justiça encarregado da citação não encontrou nenhum dirigente da empresa no prédio. Os prazos concedido pelo juiz Carlos Henrique Abrão, titular da 42ª Vara Cível Central de São Paulo, começam a correr depois da citação.

A dívida total da Vasp com a General Electric sobe a cerca de US$ 30 milhões e vem sendo cobrada desde 1992. Apesar de várias tentativas de acordo, não houve solução satisfatória para o grupo americano. Segundo uma fonte ligada aos representantes do grupo, uma das soluções propostas pela companhia aérea foi pagar suas dívidas com passagens aéreas - proposta rechaçada pela GE.

A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) também está pressionando a companhia aérea, atrasada com os pagamentos de taxas aeroportuárias. Ontem, porta-voz da Infraero declarou que a estatal, que controla 66 aeroportos brasileiros, pode proibir o pouso de aviões da Vasp em suas pistas, a não ser que as taxas sejam pagas com antecedência.

Nicho perdido

A Vasp atendia, até o desencadeamento da crise atual, no início da semana passada, 11% do mercado de viagens aéreas domésticas, mas desde a paralisação promovida por seus empregados tem endossado a maior parte dos bilhetes vendidos para outras companhias. Essa participação, que há pouco mais de quatro anos era superior a 20%, vem caindo gradativamente desde que a Gol entrou no disputa do mercado doméstico com uma política de baixos custos e tarifas econômicas, justamente o nicho que, mesmo constituída de maneira convencional, a Vasp explorava.

As dívidas acumuladas com aquisição de combustível, taxas de aeroportos, leasing de aeronaves, manutenção e obrigações trabalhistas não são os únicos obstáculos para a companhia aérea, que já teve participação de 40% do governo de São Paulo em seu capital, continuar operando. Seu maior problema é a frota envelhecida, composta, em sua maior parte, por aviões Boeing 737-200 já compulsoriamente aposentados ou em vias de perder seu certificado de aeronavegabilidade.

Novo regulamento

Obrigada, por recomendação mandatória do fabricante, a duas revisões cujos custos somados ultrapassam o próprio valor de mercado dos aviões, a frota da Vasp teria de enfrentar, em janeiro próximo, outra restrição operacional. No primeiro dia de 2005 entra em vigor um novo regulamento sobre separações do espaço aéreo, com a redução da distância vertical entre as aerovias de 2 mil pés para mil pés. Tais separações exigem um equipamento eletrônico que a atual frota da Vasp não tem.