Título: Tesouro capta US$ 1 bi no exterior
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/10/2004, Finanças &Mercados, p. B-1
Venda de bônus ocorre em momento favorável e taxa fica no piso estimado pelo mercado. O Brasil voltou ontem ao mercado internacional para a venda de títulos da dívida externa e conseguiu captar US$ 1 bilhão, de uma oferta inicial de US$ 750 milhões. Na operação, coordenada pelos bancos JP Morgan e Citigroup, o Tesouro ofertou papéis com prazo de 15 anos. A taxa de remuneração (yield) ficou em 9,15%. O título tem cupom de 8,875% ao ano e spread de 4,92% ao ano acima da taxa do Tesouro Americano. O novo bônus foi colocado ao preço de 97,780% do valor de face.
Com a operação, o País começa a fazer reservas para os compromissos que tem em 2005 - só em juros e amortizações, terá de desembolsar US$ 12,3 bilhões. A última emissão do Brasil no mercado foi no dia 22 de setembro, quando vendeu ¿250 milhões em títulos da dívida externa com vencimento em setembro de 2012. Esta operação foi uma reabertura da emissão do dia 8 de setembro, quando foram vendidos ¿750 milhões. Para financiar os compromissos em 2005, o Tesouro tem planos de captar um total de US$ 6 bilhões.
O valor de remuneração dos papéis vendidos ontem (9,15%), foi considerado bom pelo mercado, já que a expectativa era de que este percentual ficasse entre 9,15% e 9,25%. O cenário bastante favorável fez com que fosse grande o interesse dos investidores por papéis brasileiros. Segundo uma fonte, havia rumores de que a demanda chegou a US$ 5 bilhões.
Só em setembro, três agências de classificação de risco - Moody''s, S&P e Fitch - elevaram a nota (rating) da dívida do País. Além disso, fatores como dólar em baixa e a queda do risco-País, o que indica custos menores para a tomada de empréstimos no exterior, completam o cenário favorável para captações no exterior.
"Foi um bom resultado para o Tesouro que está aproveitando as condições receptivas do mercado para captar os recursos necessários para 2005", analisa Fabio Ribeiro, vice-presidente executivo de mercados internacionais do banco WestLB. "É provável que, até o final do ano, o governo faça uma nova emissão se aproveitando do interesse por papéis brasileiros."
Havia a expectativa de que o Brasil aceitasse como pagamento bradies - títulos da dívida brasileira emitidos em 1994 quando o País aderiu ao Plano Brady, criado para refinanciar países endividados. "Estes papéis trazem uma lembrança ruim e, embora hoje estejam valorizados, havia a expectativa de que o governo aceitasse como pagamento para retirá-lo do mercado, o que não ocorreu", diz.
A economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), Sandra Utsumi, também avaliou de forma positiva o resultado da nova emissão. "O mercado estava disposto a comprar papéis brasileiros e a demanda, até o meio dia, já chegava a US$ 1,5 bilhão", conta. "A operação tira um pouco da pressão que existia em cima do vencimento de US$ 1,8 bilhão em dívidas cambiais, no próximo dia 15". O BC anunciou na última terça-feira que decidiu resgatar esta dívida na semana que vem. "Com a nova emissão, as reservas não vão baixar muito por conta da decisão do BC de recomprar os papéis."