Título: Dólar cai 0,40% e fica abaixo de R$ 3,00; risco vai a 554 pontos
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Finanças & mercados, p. B-1

São Paulo, 18 de Agosto de 2004 - O dólar rompeu o piso dos R$ 3,00. Com queda de 0,40%, encerrou a R$ 2,996 - a moeda não operava abaixo desse nível desde 19 de julho, quando foi cotada a R$ 2,995. O otimismo, que já vinha caracterizando os negócios, foi reforçado ontem com os números da economia norte-americana. O risco Brasil manteve a trajetória de recuo: fechou em baixa de 1,19%, a 554 pontos. A taxa, que atingiu seu menor patamar desde 13 de abril, acumula queda de 6,5% em agosto.

"O mercado amanheceu positivo, com os dados dos Estados Unidos", afirmou o estrategista da consultoria da Global Invest, Paulo Gomes. A elevação da nota da Turquia pela agência de classificação Standard & Poor¿s, segundo Gomes, também contribuiu para mais uma melhora na percepção de risco dos países emergentes e, por conseqüência, do País. O mercado também estaria embutindo um upgrade da nota do Brasil.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) contrariou as expectativas dos analistas ao registrar queda de 0,1% em julho, o primeiro recuo desde novembro de 2003. O núcleo do indicador, que exclui as variações de preços dos alimentos e de energia, subiu 0,1%. Em junho, a inflação no varejo tinha apresentado alta de 0,3% e o núcleo, subido 0,1%. A produção industrial americana também veio abaixo das projeções dos analistas, que variavam entre 0,5% e 0,7%. Em julho, foi registrado crescimento de 0,4%, ante recuo de 0,3% no mês anterior. A capacidade utilizada subiu de 76,9% em junho para 77,1%.

Segundo o operador de câmbio da Corretora Didier Levy, Júlio César Vogeler, os investidores ficaram bastante otimistas com os números da economia americana. "O fluxo no mercado de câmbio foi positivo, graças à presença de exportadores", informou. Para o operador, a expectativa em torno da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que anuncia hoje o rumo da juro básico da economia brasileira, e do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da taxação dos inativos não atrapalhou o comportamento do dólar, apesar de ter reduzido o volume de negócios. Isso porque o mercado já precificou a manutenção da Selic em 16%, assim como aposta na vitória do governo no STF.

Para Gomes, a questão dos inativos ainda é fator de preocupação e pode estar atrasando uma melhora da nota do Brasil. "Acho que o governo pode perder no STF", disse. Outro foco de pressão, segundo ele, é o petróleo, que bateu novo recorde ontem. A commodity subiu 1,52%, para US$ 46,75.

A preocupação com o petróleo, continuou Gomes, deverá ser levantada pelo Copom, a fim de reforçar os riscos inflacionários. Ele disse que cresceu o rumor de reajuste da gasolina em cerca de 10% ainda nesta semana. Mesmo assim, para a reunião de hoje, aposta em manutenção da Selic. Gomes não descarta, porém, alta do juro no último trimestre do ano. "É mais provável o BC subir o juro do que cortar", disse, se persistir a alta do petróleo, no caso de uma perda no STF ou da volta da inflação nos preços livres.

As projeções dos juros futuros ficaram praticamente estáveis. "Não há espaço para quedas", afirmou Gomes. Ele acrescentou que as curvas embutem aumento de 0,5 ponto na taxa até o final do ano. O contrato de janeiro indicou juro de 16,63%, ante 16,62% da véspera.