Título: Ataque à ONU mata oito estrangeiros
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2011, Mundo, p. 29

Afeganistão O ato extremista de um pastor norte-americano, que queimou um exemplar do Corão há duas semanas, foi respondido ontem no Afeganistão por muçulmanos enfurecidos que promoverem um massacre no Escritório da Organização das Nações Unidas em Mazar-i-Sharif (Unama), principal cidade no norte do país. De acordo com a ONU, pelo menos oito estrangeiros morreram no ataque: três funcionários do escritório e cinco guardas nepaleses. O incidente teria resultado também na morte de um número não determinado de manifestantes afegãos, totalizando cerca de 20 vítimas, segundo a agência de notícias Reuters. Duas teriam sido decapitadas. No fim da tarde, a polícia da província de Balkh informou que um homem foi preso sob suspeita de ser o mentor do ataque, mas sua identidade não foi revelada.

Um porta-voz policial de Mazar-i-Sharif, Lal Mohammad Ahmadzai, afirmou que insurgentes talibãs teriam se infiltrado entre os manifestantes. Segundo o relato, milhares de pessoas se reuniram diante da sede da missão, após as orações de sexta-feira ¿ dia santo da semana islâmica ¿, e começaram a apedrejar as instalações. Alguns manifestantes teriam tomado as armas dos seguranças e começado a disparar. Depois, atearam fogo no prédio.

Outra fonte policial disse à agência de notícias Reuters que os manifestantes atacaram as vítimas dentro do complexo da ONU. O chefe da missão ficou ferido. Os governos da Noruega e da Suécia confirmaram que cidadãos de seus países estão entre os mortos. O porta-voz da missão, Dan McNorto, confirmou, pelo site da Unama, que o ataque ocorreu após a manifestação. ¿A situação ainda está confusa e estamos trabalhando para averiguar os fatos e cuidar do nosso pessoal¿, declarou.

Os manifestantes fizeram uma declaração exigindo que o governo afegão ¿rompa qualquer ligação diplomática com os Estados Unidos, se eles não julgarem o pastor que queimou o Corão¿. Eles pediram ao Parlamento afegão que ¿declare ilegal a presença de tropas estrangeiras¿ no país, onde cerca de 132 mil soldados enviados pelos EUA e aliados dão proteção ao governo de Cabul, assediado pelos talibãs. Protestos contra a queima do livro sagrado muçulmano ocorreram em diversas cidades afegãs, sob o lema de um ¿dia de fúria¿.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o incidente é visto como um desastre para a ONU, porque ocorre apenas uma semana depois de o presidente Hamid Karzai anunciar que a cidade seria uma das primeiras áreas do país a serem entregues pela força multinacional às tropas do governo afegão. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou o ¿ataque ultrajante e covarde¿. Nos EUA, o presidente Barack Obama divulgou nota denunciando o assassinato de ¿pessoas inocentes¿: ¿Condeno nos termos mais fortes possíveis o ataque contra a Missão de Assistência da ONU no Afeganistão¿.