Título: Lucro do BB chega a R$ 1,4 bilhão
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Finanças & mercado, p. B-1
Expansão do crédito e da receita de tarifas explica avanço de 31,7% no primeiro semestre. O Banco do Brasil registrou no primeiro semestre um lucro líquido de R$ 1,421 bilhão. É o segundo maior resultado entre os bancos que já divulgaram balanço, atrás apenas do Itaú, que obteve R$ 1,824 bilhão. O lucro do BB cresceu 31,7% em relação ao primeiro semestre de 2003 (R$ 1,14 bilhão), principalmente devido à expansão do crédito e ao aumento da receita com tarifas.
"O banco está vivendo um momento especial, com uma lucratividade muito boa", afirmou o presidente do BB, Cassio Casseb. "Passamos o Bradesco de novo", comemorou o executivo, que três semanas antes concedera uma tumultuada entrevista no mesmo auditório para se defender de denúncias de omissão fiscal. E foi além, classificando o desempenho do BB de "gostoso", "delicioso" e "super legal".
Levantamento feito pela consultoria Economática mostra que o resultado divulgado ontem é o melhor em 16 anos. Quando comparados dados atualizados pelo IPCA, lucros maiores só foram observados em 1988 (R$ 1,770 bilhão) e em 1987 (R$ 2,232 bilhões). Os investidores também gostaram. E certamente já esperavam bons resultados. Anteontem, antes da divulgação, a ação BB ON já tinha subido 4,9% no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ontem, o movimento se confirmou e o mesmo papel teve alta de 4,6%, uma das maiores do dia.
O vice-presidente de relações com o investidor do BB, Luiz Eduardo Franco de Abreu, disse que não vê nenhum problema em um banco público registrar lucros crescentes em um semestre em que os salários reais ainda estavam encolhendo. "O BB deve ser lucrativo para reduzir nosso custo de capital e para que haja recursos para aplicar em atividades do banco ligadas à área social", afirmou.
Serão distribuídos R$ 450 milhões aos acionistas, a título de juros de remuneração sobre o capital próprio. O Tesouro Nacional, que tem uma participação de 72,1% no BB, irá receber R$ 324,4 milhões no próximo dia 30 de agosto. Abreu disse que estão avançando os estudos para uma eventual oferta de ações, que permitiria a ampliação para 25% da fatia dos minoritários no capital do banco (free-float). Há duas opções sobre a mesa: uma emissão primária ou a venda de parte das ações detidas pelo governo.
O principal fator por trás do aumento do lucro foi a expansão do crédito. Houve um avanço de 21,1% nesta carteira, na comparação entre o primeiro semestre de 2003 e de 2004, enquanto o volume de títulos públicos encolheu 4%. Com isso, a participação das operações de crédito nos ativos totais do banco, que somam R$ 227,374 bilhões, subiu de 27,5% para 30,5%. No sentido inverso, a fatia dos títulos públicos nos ativos caiu de 35,4% para 30,7%.
Com a mudança da composição dos ativos, as receitas de operações de crédito subiram 11,8%, passando de R$ 7,654 bilhões para R$ 8,560 bilhões entre o primeiro semestre de 2003 e 2004. No mesmo período, as receitas de títulos e valores mobiliários decresceram 28,9%, passando de R$ 8,089 bilhões para R$5,755 bilhões. A troca de rendimentos de títulos públicos por rendas de crédito ocorre em um momento de queda dos "spreads" dos empréstimos bancários. O BB vem mantendo boa rentabilidade graças ao aumento dos volumes de concessão e à mudança do "mix" de sua carteira, com maior destaque para as operações com pessoas físicas.
As taxas médias de operações de crédito e arrendamento mercantil do BB caíram de 27,3% para 23,7% entre o primeiro semestre de 2003 e 2004, principalmente devido ao aumento das operações de crédito rural, que têm menor rentabilidade. No agronegócio, o "spread" médio do BB é de 2,7%. Parte dessa perda vem sendo compensada com o aumento da importância do crédito a pessoas físicas na carteira do BB, que tem um "spread" médio de 18,9%. Houve decréscimo em relação aos 19,5% registrados no primeiro semestre de 2003, mas essa redução no "spread" de pessoas físicas está sendo compensada pelo maior volume de crédito.
A forte expansão da carteira de crédito está levando o BB a elevar seu volume de provisões, o que afeta o resultado. As provisões para créditos de liquidação duvidosa somaram R$ 2,560 bilhões no primeiro semestre de 2004, alta de 24,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento, explicou o vice-presidente de gestão de riscos do BB, Adézio Gomes, deve-se a uma postura mais rigorosa adotada pelo banco para as operações até R$ 50 mil.
Operações de cheque especial e cartão de crédito, por exemplo, que antes eram classificadas com a nota A, passaram a receber a classificação B. Já o crédito direto ao consumidor concedido nos terminais de auto-atendimento teve uma redução de classificação A para C. Essas quedas representam aumento nas provisões, que devem ser tão maiores quanto menores forem as notas.
Outro fator que colaborou para a expansão do lucro do BB foi a cobrança de tarifas. O pacote de tarifas do BB, chamado Plano Ouro, arrecadou R$ 539 milhões no primeiro semestre, alta de 43,26% em relação ao mesmo período do ano anterior. Uma parcela desse aumento é explicada pela expansão da base de clientes (20%), mas há também aumento dos valores cobrados