Título: Desemprego leva brasileiros a abrirem o próprio negócio
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2004, Nacional, p. A-4

Pesquisa encontra mais novos empreendedores do que novos assalariados. O brasileiro teve que abrir seu próprio negócio para contornar a retração do mercado de trabalho formal, segundo a pesquisa Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2002, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, houve expansão maior no número de sócios e proprietários (12,3%) do que no de volume de pessoas assalariadas (5,7%) entre 2001 e 2002.

A variação já indica uma tendência, visto que de 2000 para 2001 o crescimento do número de sócios e proprietários foi de 8,1% e o de assalariados, de apenas 5%. A pesquisa apurou, ainda, aumento de empresas sem empregados assalariados: são 3,1 milhões de companhias funcionando só com sócios, uma elevação de 6,3% em relação ao ano anterior. Quando avaliado o grupo de pessoal ocupadas, a participação dos assalariados caiu 1%, enquanto que a dos proprietários passou para quase 20% do total. São cerca de 3,9 milhões num universo de 34,7 milhões de ocupados.

De 1997 a 2002, as maiores taxas de crescimento de unidades locais de empresas foram registradas nas regiões Norte e Nordeste, com 56,2% e 50,3% respectivamente. Por outro lado, a taxa do Sudeste (37,9%) foi a menor entre todas as regiões, seguida pelo Sul (40,2%) - as duas com variações abaixo da média nacional (41,6%).

A instalação de novas unidades produtivas, no entanto, não significa sempre geração de novas ocupações, já que grande número delas não tem empregados e a média de pessoas ocupadas por unidade local caiu de seis pessoas em 1997 para cinco em 2002.

Se abertura do próprio negócio se apresentou como saída para a falta de empregos, o interior do país completa a rota de fuga para a manutenção dos rendimentos. A pesquisa do IBGE constatou que as capitais, tradicionalmente os centros de produção, começam a dar lugar a municípios menores, que atraíram mais investimentos através de incentivos fiscais ou de melhoria de infra-estrutura. Em todas as regiões do Brasil, o crescimento nas capitais foi inferior ao dos demais municípios, no período entre 1997 e 2002. A perda foi tanto de número de unidades locais como de pessoas ocupadas.

Entre o pessoal ocupado, a participação das capitais caiu de 41% para 37% em cinco anos, principalmente devido às perdas nas capitais do Sudeste e Sul. Em 1997, a maior parte do pessoal ocupado nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste estava nas capitais. Em 2002, no entanto, em todas as regiões houve aumento de pessoas ocupadas nos municípios fora da capital. No Nordeste o aumento foi maior, com os municípios do interior absorvendo a maior parte da mão-de-obra (53,1%).

Já a remuneração do pessoal ocupado e das empresas manteve o ritmo de crescimento. De 2000 para 2001, a oscilação ficou positiva em 12,6%, o mesmo patamar de crescimento registrado entre 2001 e 2002, totalizando R$ 304 bilhões.