Título: "É um processo que não tem volta"
Autor: Daniel Pereira e Romoaldo de Souza
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2004, Política, p. A-8

Tranqüilo. Foi com este adjetivo que os gaúchos Pedro Luiz Herter e João Augusto Araújo Telles resumiram seu estado de espírito, quando souberam ontem da iniciativa tomada por Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois entendem que agora os produtores vão acelerar o preparo da terra com a serenidade necessária, pois estão outra vez dentro da lei.

Eles são parte de um universo de 90% de algo em torno de 150 mil produtores, que adotaram a semente transgênica. "É um processo que não tem volta", afirma Araújo Telles. "É a uma realidade sem retorno", concorda Herter.

Na visão da maioria dos políticos e representantes do agronegócio, o governo federal demorou demais para tomar uma providência. Afinal, o cultivo de transgênicos no estado está consolidado.Portanto, não seria lógico que depois de haver sido legalizada a plantação em safras passadas, agora houvesse um retrocesso por parte do Planalto. E de fato o que faltava mesmo era a medida provisória. Pois Lula é a favor e o incen-tivo aos transgênicos é uma política de governo hoje.

Araújo Telles tem sua lavoura de 500 hectares em Cruz Alta, uma das mais tradicionais áreas de agricultura do Rio Grande do Sul. "Aqui na região, quase todos os produtores usam soja transgênica", afirma. "Não há mais semente convencional para ser cultivada", acrescenta Herter, de Tupanciretã, onde ficam suas terras.

Ele também é um entusiasta dos transgênicos e cultiva cinco mil hectares de soja. Se por uma hipótese remota, houvesse proibição deste grão, o prejuízo seria certo.

Também é inútil levar variedades convencionais do Centro-Oeste para o Sul, por exemplo, pois elas não se adaptariam no Rio Grande. Os produtores, tem no bolso, é claro, o principal motivo para buscar diminuição nos seus custos. Ainda mais num ano em que a o preço da saca da soja tende a ficar em US$ 11. Chegou a picos de US$ 18, na colheita passada.

"Além de ser mais vantajoso devido ao custo menor, temos de levar em conta que usamos muito menos herbicida", pondera Herter. Segundo ele, onde um agricultor era obrigado a usar 3 quilos de produto químico por hectare com a soja convencional, agora as aplicações caíram pela metade com a variedade transgênica. "Mesmo assim, podemos utilizar produtos totalmente biodegradável".