Título: Governo anuncia medidas de apoio ao comércio do trigo
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2004, Agribusiness, p. B-12

O governo anunciou ontem o lançamento de contratos de opção para o trigo. Ao todo, poderão ser leiloados papéis para até 650 mil toneladas do grão. A medida visa recuperar o preço da commodity, que desde o início da colheita, no mês passado, caiu até 15%.

A situação mais grave é a dos produtores do Rio Grande do Sul, onde o trigo está sendo vendido a R$ 350 a tonelada, valor abaixo do mínimo de garantia do governo (R$ 400 a tonelada). O estado responde por 36% da safra nacional e sua produção concorre diretamente com a da Argentina, que colhe na mesma época e está comercializando a US$ 125 a tonelada.

"Sobre o custo total de produção, os triticultores gaúchos estão contabilizando um prejuízo de 20%", afirma Carlos Cogo, da Cogo Consultoria Agroeconômica. Segundo ele, além de disputar o mercado com o produto argentino, outro problema enfrentado pelo gaúcho é produzir o dobro de sua demanda interna e estar longe dos centros consumidores. Cogo afirma que, com os preços atuais, haverá redução de plantio na próxima safra.

Diante desse quadro, o Rio Grande do Sul foi o estado mais beneficiado pelas medidas do governo. No próximo dia 21 serão ofertados contratos para 216,6 mil toneladas para o Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Desse total, quase metade (108,2 mil toneladas) serão no Rio Grande do Sul. Os contratos leiloados na próxima semana vencem em janeiro, com preços de exercício de R$ 428,75 a tonelada no Sul e R$ 458,75 a tonelada nos demais estados. Volume igual será ofertado dia 28, com exercício em fevereiro, a R$ 434,36 e R$ 464,36 a tonelada, respectivamente. Em novembro poderão ser leiloados outros contratos.

Além das opções, outra medida do governo é o leilão de até 800 mil toneladas de Prêmio de Escoamento do Produto (PEP), uma subvenção dada às indústrias para que levem o produto ao Norte e Nordeste. Hoje ocorre remate de 70 mil toneladas do Sul e Mato Grosso do Sul, com prêmio de R$ 122 a tonelada. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também colocou à disposição R$ 20 milhões para Aquisições do Governo Federal (AGF). Segundo o diretor do Departamento Agropecuário do ministério, José Maria dos Anjos, com as ações, o governo pretende garantir que os preços subam a patamares do mínimo. O ministério poderá enxugar até 26% da safra (1,6 milhão de toneladas).

O anúncio do governo foi visto como uma ação alentadora pelo mercado, que estava praticamente parado. Segundo Aldo Lobo, consultor da Safras & Mercado, nos últimos dias apenas vendiam os produtores que precisavam honrar compromissos. Ele acredita que, juntas, as medidas devem fazer com que o preço não caia mais. "Dá um alívio ao produtor, pois enxuga o mercado", diz Jorge Proença, assessor técnico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep).