Título: Irrigação ajuda a revitalizar o algodão no Ceará
Autor: Adriana Thomasi
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

Governo estadual busca revitalizar a cultura para suprir a indústria local, que consome 170 mil toneladas por ano. O cultivo de algodão, commodity que já rendeu aos produtores do Ceará bons negócios em décadas passadas, vai garantir este ano a colheita de 16.165 toneladas em caroço, produtividade de 965 quilos por hectare, com produção de 5.334 toneladas de pluma (produtividade de 318 kg/ha). Do global, 3.115 toneladas correspondem ao cultivo irrigado, volume superior as 923 toneladas de 2003.

A área cultivada global fecha o ano em 16.752 hectares e também evoluiu em relação aos 14.209 hectares, que apresentaram rendimento de 14.167 toneladas de algodão em caroço e produtividade média de 997 kg/ha - maior que a estimada para 2004. "A intensidade de chuvas em fevereiro, começo do plantio, e ocorrência de veranicos, durante o ciclo da cultura acabaram reduzindo a produtividade média da safra prevista para o ano", justifica o coordenador do Programa Algodão do Ceará (Proalce), Roberto Virgínio e Sousa.

A retomada da produção algodoeira, via programa do governo do Estado, coordenado e executado pela secretaria da Agricultura e Pecuária (Seagri), mostra que algumas região produtivas, caso de Iguatu, por exemplo, conseguiram alcançar 3 mil quilos de algodão em caroço por hectare, no cultivo em sequeiro. "A idéia é revitalizar a cultura algodoeira no Ceará, com base em técnicas, que envolvem desde o plantio até a colheita, possibilitando o aumento da produtividade", reforça Virgínio.

Os planos para até 2007 sinalizam para o plantio 80 mil hectares, em condições de atender até 30% da demanda de pluma da indústria têxtil cearense, que chega hoje a 170 mil toneladas/ano. A maioria das indústrias compra algodão do Mato Grosso e Bahia e importa cerca de 30% a 40% dos Estados Unidos e África.

A colheita iniciou mês passado pelo distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi (Dija), a 10 quilômetros de Limoeiro do Norte, onde um grupo de empresários decidiu apostar no plantio, e conseguiu rendimentos médios de 5.250kg por hectare de algodão em caroço da variedade herbáceo irrigado, utilizando técnicas mecânicas, semelhantes às empregadas em centros produtores como de Mato Grosso, Goiás e Bahia.

O rendimento médio previsto pelo IBGE para o Estado é de 2.981 quilos por hectares, um diferencial significativo para o coordenador, e que vem apoiado em novas tecnologias. A região do Apodi concentra 450 hectares área irrigada. "O algodão irrigado do Ceará é mais competitivo do que a fruticultura", afirma Marcos Montenegro, presidente do Sindicato da Indústria de Extração de Fibras Vegetais e do Descaroçamento do Algodão no Estado do Ceará (Sindalgodão).

De acordo com o coordenador do Proalce, Roberto Virgínio, desde que comprovada a viabilidade da cultura algodoeira, associada à utilização de técnicas, os investimentos começaram a aparecer. O grupo responsável pela primeira colheita mecanizada do ano plantou 1.671 hectares, nos municípios de Quixeré, Jaguaruana, Russas, Iguatu, Limoeiro do Norte, Crateús e Nova Jaguaribara e deverá render 2.394 toneladas de algodão em caroço ou 92,4 toneladas de plumas por hectare.

O redesenho do mapa do algodão no Ceará envolve a implementação do cultivo em escalas empresarial e convencional, divisão definida por blocos regionais "Vamos concentrar plantio o convencional nos 35 municípios do Estado, responsáveis por 70% da produção de algodão", informa. No convencional de sequeiro as ações do programa permitem apostar no rendimento 1.200kg/ha ou 80 arrobas/ha, enquanto no irrigado alcança 3.000kg/ha ou 200 arrobas/ha. Em escala empresarial os números evoluem para 3.000 kg/ha e 200 arrobas/ha e 5.250kg/ha ou 350 arrobas/ha, respectivamente. "Esse desempenho é resultado do esforço concentrado, que envolve todos os elos da cadeia produtiva", observa o coordenador Virgínio. O custo por ha chega a R$ 3.816, para receita bruta de R$ 6.300 e líquida de R$ 2.484 por hectare.

O Proalce distribuiu este ano 56,45 toneladas de sementes a 1.939 pequenos produtores do sistema de produção convencional, em área de 5.646. O coordenador trabalha ainda com grupos de produtores organizados, que recebem assistência técnica dos agentes.

A estratégia do governo ao estimular o cultivo de algodão é elevar produção de forma sustentável e permanente, além de garantir produtos de qualidade, com tecnologia e de forma competitiva, além de fomentar e apoiar o plantio de algodão herbáceo irrigado. "A idéia é também monitorar e controlar o bicudo, profissionalizar produtores", adianta. O cultivo do algodão, que gera hoje 6.049 empregos deverá alcançar de 28 mil postos de trabalho, em 2007, prevê a Seagri.

Qualidade intrínseca

O presidente do Sindalgodão, Marcos Montenegro, afirma que a qualidade intrínseca do produto colhido no estado é muito boa, mas o algodão ainda enfrenta problemas de armazenamento e transporte. "A utilização de sacos de fibra plástica acaba comprometendo o resultado final", assinala. De acordo com Montenegro, as reclamações de corpos estranhos (ou contaminação) como definem os empresários vêm das fibras da embalagem.

O dirigente lembra que, embora a campanha para as melhorar as condições, o setor continua prejudicado, pois a maioria da produção vem de pequenas áreas ainda sem estrutura para garantir armazenagem adequada. "Mas evoluímos muito e todo algodão produzido é já vendido no Ceará", garante. Algo que a colheita mecanizada, como lembra Virgínio, vai evitar. "Vamos ganhar na redução de custo de embalagem e armazenamento, na contaminação de polipropileno, perda de peso do algodão no campo", garante.

Os preços, por sua vez, recuaram. A arroba de pluma que, no ano passado alcançou R$ 70, está sendo negociada hoje a R$ 55, informa. "A produção mundial cresceu muito e o algodão é commodidy", acrescenta. Segundo dirigente, o Brasil acompanhou o ritmo e produz hoje cerca de 850 mil toneladas de pluma, diante das 780 mil toneladas de 2003.

O algodão, conhecido como ouro branco nordestino, foi uma das principais culturas do Ceará. Na década de 50, o estado plantou 350.015 hectares, com produção média 119.482 toneladas em caroço, rendimento de 39.420 toneladas de pluma. Nos anos 70, a área passou 1.206.491 de hectares, produção de 247.041 toneladas em caroço, e média 81.523 toneladas de plumas. "Na época, o consumo da indústria era de 7 a 8 mil toneladas/ano, com maior mercado em São Paulo", recorda Montenegro.

kicker: Novas tecnologias permitem índices superiores de produtividade