Título: Petróleo preocupa, diz Mailson
Autor: Ivanir José Bortot
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14

O ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nobrega, acredita em um crescimento econômico sustentável daqui para frente com melhora que vem ocorrendo dos fundamentos macroeconômicos do país. A economia deverá manter em 2005 um ritmo de crescimento equivalente a 4% do Produto Interno Bruto(PIB), com inflação controlada na casa dos 5,3% e taxas de juros básica de 15% ao ano.

O comportamento dos preços do petróleo, alerta Mailson, é o único fator visível que poderá alterar este cenário. Caso o barril do petróleo venha atingir a US$ 60 haveria uma retração da economia mundial com reflexos no Brasil. "A este nível de preços haveria um declínio da atividade econômica. Cai o volume de comércio, produz um aumento de juros e aumenta a aversão ao risco e uma valorização do câmbio", disse Mailson da Nobrega em Curitiba, onde falou a investidores do mercado financeiro.

A sustentação do crescimento da economia deverá ocorrer pelos ganhos com as exportações e o afeito do poder de compra da população. Mailson da Nobrega estima em 5,5% o aumento da massa de salários, como conseqüência de uma elevação real de salários de 3% e aumento de 2,5% no número de pessoas empregadas. Este efeito de renda sobre o consumo e a atividade industrial já é visível. Mailson da Nobrega acredita que teremos um dos melhores natais dos últimos anos.

Superávit

As exportações do Brasil deverão continuar crescendo em 2005, mas o superávit deverá cair dos atuais US$ 32 bilhões para US$ 27 bilhões. A redução do superávit deverá ocorrer, mesmo com crescimento das exportações, em função do aquecimento da economia. É que uma parcela do que seria exportadas de bens de consumos deverão ser absorvidos pelos brasileiros.

Com dólar cotado a R$ 3,15, o País deverá receber cerca de US$ 20 bilhões de investimento direto destinado a ampliar a estrutura de produção em 2005. A conta de transações correntes, do balanço de pagamento, deverá inverter a atual tendência devendo reduzir o superávit de transações corrente de US$ 9 bilhões em 2004 para algo como US$ 5 bilhões em 2005. "A tendência é voltarmos a operar com déficit em conta corrente, uma vez que necessitamos de recursos externos para financiar o nosso crescimento", disse Mailson.

A política econômica adotada pelo presidente Luiz Ignácio da Silva, e mesmo a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo federal, contribuiu para reforçar a confiança dos investidores no país. "Nenhum país fica rico, sem instituições sólidas e um conjunto de regras que garantam segurança ao investidor", disse Mailson.

Para o ex-ministro da Fazenda, o governo Lula vem conseguindo conquistar a confiança dos investidores ao perseguir uma política fiscal e monetária mais conservadora do que foi executada por Fernando Henrique Cardoso. O esforço fiscal feito pelo governo Lula, que resultou na elevação das metas de superávit primário para 4,5% do PIB em 2005, e o aumento das taxas de juros contribuiu para reduzir a inflação a um patamar de 7,2% em 2004.

O governo conseguiu controlar a inflação e fazer economia crescer porque contava com elevada ociosidade da capacidade instalada das indústrias.

Novos investimentos

A partir de agora serão necessários novos investimentos para ampliar a capacidade de produção industrial e modernização dos processos produtivos para que seja possível crescer sem inflação.

Mailson da Nobrega estimou que serão necessários investimentos equivalente a 22% do PIB para que o país possa sustentar seu crescimento econômico sustentável. Parte dos recursos devem ser obtidos com investimento externo, mas a maior parcela dependerá da poupança interna, que dependerá da redução de impostos.

kicker: Para ex-ministro, economia crescerá no ritmo de 4% ao ano

kicker2: Brasil deverá receber US$ 20 bilhões de investimentos diretos em 2005