Título: Câmaras bilaterais ajudam a balança
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Nacional, p. A-4

Já são 45 entidades funcionando no país - a mais velha, a francesa, foi criada há 104 anos. A crescente inserção do Brasil no mercado internacional, principalmente em países pouco tradicionais, provocou a abertura de novas câmaras bilaterais de comércio no País e renovou o fôlego de representações que operavam de forma muito discreta. Elas são um dos principais indutores dos negócios entre as nações e estão tendo participação decisiva na melhoria da balança comercial nacional. O exemplo mais recente desta dinâmica é a Câmara de Comércio Brasil-Turquia, inaugurada no início deste mês, no Rio de Janeiro. A casa nasce com o objetivo de incentivar o comércio entre os dois países, que gira US$ 400 milhões por ano, o equivalente a apenas 0,2% da pauta brasileira de exportações. O Brasil tem forte superávit no comércio bilateral, uma vez que importa da Turquia aproximadamente US$ 50 milhões anuais.

O presidente da Câmara, o economista Carlos Alberto de Andrade Pinto, destacou, durante a solenidade de inauguração, que a entidade será importante para fazer da Turquia a porta de entrada para os produtos brasileiros no eixo entre o Leste Europeu e o Oriente Médio. "A União Européia acabou de aceitar o início dos estudos para incluir o país na comunidade, o que aumenta a importância do nosso trabalho" acrescentou. Ele adiantou que ainda em 2004 deve haver uma missão com empresários brasileiros à Turquia, a exemplo do que aconteceu no final de agosto. "Na última visita ao país, a maior conquista foi a proposta da formação da Câmara. As atividades da entidade devem começar com mais força no início do próximo ano, com a promoção de encontros para fomentar o comércio."

Ao todo, são 45 câmaras bilaterais do Brasil filiadas à Federação das Câmaras de Comércio Exterior, a maioria com sede no eixo Rio-São Paulo. Algumas têm uma longa história comercial com o Brasil, como a francesa, criada há 104 anos. Outras são mais recentes e incluem parceiros menos tradicionais. Países como Indonésia, Sri-Lanka, Finlândia, Romênia e até Belarus já possuem suas representações comerciais no Brasil.

A Câmara Brasil-Líbano, criada em 1958, chegou a ser uma das mais atuantes em solo nacional, mas ficou muitos anos parada após a guerra enfrentada pelo país, na década de 70. O diretor Nagib Zaatar Makhlouf disse que no ano passado uma nova geração assumiu o comando da entidade, que quer agora voltar aos velhos tempos. A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, este ano, e a participação de empresas no evento Planet Libanon, no segundo semestre, deram novo fôlego à Câmara.

Criada há 52 anos, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) também ganhou corpo nos últimos dois anos em função do aumento das exportações para os 22 países que representa. Em 2004, a CCAB promoveu a participação de expositores brasileiros em uma série de eventos no mundo árabe, como a Jewellery Arabia, feira de jóias realizada no Bahrein, e a BeautyWorld Middle East, do segmento de cosméticos. O presidente Paulo Sérgio Atallah disse que ainda este ano empresários nacionais irão para o Big Five, um mega evento do setor de construção civil, em Dubai.

Atallah disse que, além de facilitar a chegada de produtos brasileiros no mercado árabe, a Câmara também atua no sentido contrário. "Há uma série de produtos que poderiam ter mais volume de exportação para cá, como o algodão egípcio e o azeite de oliva, para os quais falta promoção comercial por parte dos árabes. Este tipo de lacuna também procuramos suprir", acrescentou.

Entre as câmaras consolidadas no Brasil, uma das mais atuantes é a americana, que reúne 5,5 mil sócios, e está presente em diversos estados. As empresas associadas atuam em todas as áreas da economia e empregam 1,6 milhão de trabalhadores. Fundada em 1919, a Amcham-SP é a 2 maior câmara americana de comércio do mundo - a maior fora dos Estados Unidos. Mesmo porte tem a Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB), segundo o seu presidente Jean Marie Lannelongue.

"Nosso tamanho é proporcional ao investimento francês no Brasil", disse - US$ 1,9 bilhão em 2000. A CCFB tem aproximadamente 800 associados, de capital francês e brasileiro, que empregam 150 mil profissionais e faturam cerca de US$ 25 bilhões. A França hoje é o 6 maior parceiro comercial do Brasil.

CCAB tem agência de notícias

Além de fomentar os negócios, as câmaras de comércio oferecem uma série de serviços a seus associados, alguns deles pouco conhecidos. Na Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria & Turismo é possível, por exemplo, contar com serviço de tradução automática e serviço de meteorologia. Já a Câmara de Comércio França-Brasil oferece um transporte expresso de documentos e encomendas com entrega em até 48 horas nas principais capitais européias. Tem ainda lista de contatos na França e cadastro de currículos.

Já a CCAB é a única a ter uma agência de notícias, criada em 2003 para preencher a lacuna de comunicação entre o Brasil e os 22 países árabes que representa. "A falta de informações, de ambos os lados, ainda é um dos principais entraves para o fechamento de negócios", explica o presidente Paulo Sérgio Atallah. As matérias feitas para o mercado brasileiro são diferentes das distribuídas para jornais árabes e agências internacionais.

Na área ambiental, a referência é a Câmara Brasil-Alemanha, que possui farta biblioteca sobre o tema, e também mantém o Prêmio Ambiental von Martius, que reconhece iniciativas de empresas, do poder público, de indivíduos e da sociedade civil que promovam o desenvolvimento econômico, social e cultural com respeito à biodiversidade.