Título: Meta é suprir a demanda doméstica
Autor: Henrique Silveira Neves
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Panorama setorial, p. A-12

Mesmo com produção diversificada, País ainda é dependente da importação de papel de imprensa. Manter a participação do Brasil no mercado internacional de papel e suprir plenamente a expansão da demanda doméstica de modo a reduzir as importações. Esses são dois dos principais objetivos que integram o programa de investimentos do setor para o período 2003-2012, elaborado pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

Embora a produção brasileira seja bastante diversificada, o País ainda é dependente sobretudo da importação de papel de imprensa. A produção nacional desse item vem caindo nos últimos anos. Em 2003, houve queda drástica, decorrente da desativação da linha da Klabin. Hoje, a única produtora de papel de imprensa do País é a Norske Skog Pisa, controlada da norueguesa Norske Skogindustrier, uma das maiores fabricantes mundiais desse segmento.

A queda na produção deve-se à falta de competitividade do produto nacional dentro do próprio País. Essa situação está sendo causada pelo fato de a legislação brasileira não permitir que seja mantido o crédito de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pago sobre os insumos para a fabricação dos produtos imunes (papéis para jornais, revistas e livros). Assim, tal imposto eleva o custo de produção para as fábricas locais.

"O papel de imprensa é o único grande segmento da indústria brasileira de papel e celulose cuja balança comercial é negativa: nos últimos dez anos as importações custaram cerca de US$ 2 bilhões", afirmou Osmar Zogbi, presidente da Bracelpa e da Ripasa Celulose e Papel, em artigo publicado pela Gazeta Mercantil em julho de 2003. "Se as 500 mil toneladas consumidas no Brasil fossem totalmente produzidas no País, isso poderia proporcionar US$ 300 milhões de redução anual do déficit comercial, R$ 150 milhões por ano em impostos e contribuições, 5 mil a 7 mil empregos em toda a sua cadeia produtiva (floresta) e interiorização do desenvolvimento (proximidade das florestas)", contabilizava.

O Brasil também importa papel couché. No entanto, as importações desse tipo de papel têm caído muito nos últimos anos, segundo Arthur Gonoretzky, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Papel (Andipa) e diretor de gerenciamento da distribuidora e importadora Branac Papel e Celulose. Elas somam hoje cerca de 50 mil toneladas anuais, mas já foram de 120 mil. Essa queda, segundo Gonoretzky, deve-se ao forte aumento nos últimos anos da produção de papel couché no País. Para Osmar Zogbi, a produção nacional de couché já é suficiente para atender o mercado interno. O executivo disse que o couché brasileiro é de qualidade melhor que o importado e que o País está começando a incrementar sua exportação.

Ainda assim, muitos usuários preferem o papel importado, pelas mais variadas alegações: qualidade, melhores condições de pagamento ou até para não perder contato com as novidades do exterior. Segundo Gonoretzky, o consumo de papel couché no País ainda é muito baixo quando comparado com o de países de nível de desenvolvimento mesmo semelhante ao brasileiro.

O Brasil fabrica praticamente todos os tipos de papel. Mais da metade da produção destina-se à confecção de embalagens. Dos 7,81 milhões de toneladas produzidas pelo País em 2003, 47,8% (3,73 milhões toneladas) foram de papéis de embalagem. Os papelcartões, que são utilizados predominantemente na confecção de embalagens, ficaram com 6,8% da produção (533 mil). Os restantes 45,4% foram divididos entre papéis de imprimir e escrever, com 29,1% (2,27 milhões), papéis para fins sanitários, com 8,7% (682 mil), cartolinas, papelões, polpa moldada e papéis especiais, com 5,5% (429 mil), e papel de imprensa, com 2,1% (163 mil).

São muitos os tipos de papéis especiais que o Brasil fabrica: químicos, filtrantes, heliográficos, para confecção de cigarros, para isolamento térmico, entre outros itens específicos. Em 2002, foram produzidas 181 mil toneladas desses papéis. Os de maior produção são os químicos (63 mil toneladas em 2002), papéis que recebem tratamento químico para possibilitar a obtenção de cópias. Eles são usados, por exemplo, em notas fiscais, formulários e aparelhos de fax.