Título: Analistas prevêem Selic em 16,50%
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

BC deve manter aperto na política monetária mesmo com recuo nos índices inflacionários. Os analistas não acreditam em grandes surpresas na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entre amanhã e quarta-feira, e são unânimes em prever uma alta da Selic de 0,25 ponto percentual. Diferentemente do que ocorreu nas vésperas da reunião de setembro - quando as projeções se dividiam entre um aumento de 0,25 e de 0,5 ponto percentual - agora o discurso é uniforme. O mercado está confiante no sinais enviados pelo próprio Banco Central. Na ata da última reunião, o BC indicou que adotaria uma política de alta gradual na taxa básica para evitar a volatilidade dos mercados.

Embora apostem em um aumento de 0,25 ponto percentual - o que elevaria a Selic para 16,50% ao ano - boa parte dos analistas ouvidos pondera que, do ponto de vista puramente técnico, já existem elementos consistentes para que o BC interrompa a trajetória de elevação da Selic. "Os índices de inflação de setembro foram muito melhores do que se esperava e daria para o Copom postergar um aumento", diz Renata Heinemann, economista do Banco Pátria de Negócios. Os dados sobre inflação em setembro da Fundação Getúlio Vargas/SP e da Fipe - IPC de 0,26% e de 0,21%, respectivamente - mostram desaceleração dos preços. "A inflação não apenas recuou, mas em percentuais que surpreenderam."

Na opinião de alguns analistas, o recuo nos índices inflacionários mostra também que não há pressão do crescimento da renda nem do emprego sobre a formação de preços. "Com o juros no nível atual, renda e emprego serão os principais sustentadores do crescimento econômico", diz o diretor da GlobalInvest, Alexsandro Agostini Barbosa. "Estes dois indicadores começaram a se recuperar em abril, mas já recuaram a partir de agosto, o que impede uma pressão de demanda sobre os preços." A renda no ano passado, segundo Agostini, caiu 12% e este ano, pelo menos até agora, só recuperou 4%.

Os dois principais argumentos utilizados pelos analistas para sustentar a previsão de alta da Selic são o cenário incerto do petróleo, que vem batendo sucessivos recordes, e a opção do BC por uma ação preventiva. Na sexta, o petróleo tipo WTI fechou com alta 0,31%, cotado a US$ 54,93 o barril. "Embora as projeções do BC já trouxessem uma expectativa de alta de 9,5% nos combustíveis este ano, o barril tem subido muito acima das previsões, o que pode obrigar a Petrobras a um novo reajuste com reflexos na inflação", lembra Paulo de Sá, estrategista-chefe da SulAmerica Investimento. "O aumento dos combustíveis este ano ainda não ultrapassou as previsões do BC, mas não se sabe por quanto tempo."

A opção do BC por uma ação preventiva, destacada pelos analistas, foi reforçada por uma declaração do presidente do banco. "O Meirelles já afirmou que não vai cometer os mesmos erros do passado, quando o BC esperou muito e depois teve de efetuar um aperto monetário drástico", lembra Agostini, da GlobalInvest. "O BC fixou a meta a ser perseguida para 2005 em 5,1%, mas as projeções atuais indicam uma inflação de 5,6%, o que reforça a idéia de aumento da Selic para mostrar ao mercado a disposição da autoridade monetária de perseguir a novo foco."

Usando o mesmo argumento - o BC dar sinais claros de sua disposição em atingir os 5,1% em 2005 - há quem defenda uma atitude mais dura do banco. "Eles poderiam subir a Selic em 0,5 ponto percentual, dando um indicativo de combate mais forte da inflação", defende o economista Adauto Lima, do banco WestLB.

Enquanto aguarda a nova taxa de juros referência na economia, o mercado viveu uma sexta-feira tranqüila. Os juros futuros de novembro, que sinalizam a projeção da Selic, já refletiam o aumento esperado. Os contratos, negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), indicaram juro anualizado de 16,36%, alta de 0,01 ponto percentual sobre o dia anterior. Os contratos com vencimento em abril de 2005, os mais líquidos, fecharam em 17,19% ao ano, contra 17,25% da véspera.

O dólar encerrou a sexta-feira com baixa de 0,55%, vendido a R$ 2,857. O câmbio foi influenciado, em parte, pela recepção positiva dos mercados internacionais aos comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Alan Greenspan. O chairman considerou que a alta recente do petróleo terá efeito limitado sobre a economia dos Estados Unidos. No cenário externo, o risco-país apresentou queda de 3,42%, fechando em 464,26 pontos, e o C-Bond se valorizou 0,38%, negociado a 99,250% do valor de face.