Título: Otimismo no governo, com indícios favoráveis (cont)
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Relatório - Investimento em turismo e Hotelaria, p. 1

"2003 foi o ano em que mais entrou dólar via turismo em 50 anos. Os turistas estão gastando mais". A seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo ministro Walfrido dos Mares Guia especialmente para esta edição:

Governo e empresas otimistas

"Meu otimismo está baseado em fatos e dados. O primeiro é o crescimento de desembarques internacionais, que subiu 15,2% de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2003, já considerado pelo setor um ano de retomada acima da média dos últimos cinco anos. Se mantivermos esse nível, dobraremos o volume de desembarques em quatro anos. Esse é um dado extraordinário, em uma economia que cresce a 4,7% ao ano com uma inflação estimada em 7%. E provavelmente ainda será maior, porque faltam os últimos meses do ano, que são os mais intensos em desembarques.

Em segundo lugar, de acordo com o Banco Central, 2003 foi o ano em que mais entrou dólar no Brasil via turismo em 50 anos. Foram US$ 1,55 bilhão entre janeiro e agosto. No mesmo período de 2004 entraram US$ 2,104 bilhões, ou seja, 34,6% a mais. Além do número maior, os turistas estão gastando mais. Não entram nessa conta do BC os dólares trocados informalmente nos hotéis, que elevariam bastante esse número.

Além desses dados, o otimismo também vem das expectativas dos próprios empresários do setor. O Boletim do Desempenho do Turismo, realizado todo trimestre pela Fundação Getúlio Vargas, têm mostrado estimativas de crescimento de até 16% no setor. E todos tem afirmado que vão empregar".

Do déficit ao superávit

"Os brasileiros estão viajando mais neste ano do que no ano passado, mas como a entrada de dólares estrangeiros aumentou ainda mais, o superávit foi de US$ 350 milhões. Nós passamos toda a década de 1990 com esse número deficitário, tivemos um saldo positivo de US$ 217 milhões em 2003 e agora tivemos esse saldo em apenas oito meses.

Incentivo ao turismo interno

"O turismo interno representa 80% do negócio de turismo. O internacional é apenas 20%. A proporção é semelhante em grande parte dos países, como a França, onde 85% da população viaja dentro do próprio país. Nos EUA, a proporção é de 75%, por conta da criação de uma estrutura forte, como os parques temáticos, que segura o americano dentro do país.

No Brasil não existe essa tradição de turismo interno, o grosso da população viaja para visitar parentes, não para conhecer destinos turísticos. Tem que se incentivar esse mercado, fazer promoção, com preços mais atrativos fora da temporada, justamen-te para captar esse brasileiro que ainda não viaja.

Criação de novos destinos

"A idéia é gerar 1,2 milhão de empregos, atrair nove milhões de turistas internacionais, quando nosso ponto de partida em 2002 foram 3,8 milhões, ou US$ 8 bilhões em ingressos - contra US$ 3,5 bilhões obtidos no ano passado - 65 milhões de desembarques domésticos, contra 31 milhões em 2003, e pelo menos três novos produtos turísticos em cada estado com categoria internacional.

Serão 81 novos destinos além das capitais, na prateleira das agências de viagens. Tudo isso será realizado até 2007, prazo estipulado dentro do Plano Nacional criado pelo governo Lula para o setor.

Destinos como Bonito, Ouro Preto, que já existem mas não estão qualificados; Parati, Olinda, Diamantina, a Serra Gaúcha, a Rota dos Tropeiros no Paraná, as estâncias hidrominerais de São Paulo, o Jalapão, são exemplos desses novos produtos turísticos que serão lançados. Isso tudo é conhecido por pouquíssima gente, e tem um incrível potencial de atração turística. Falta ser transformado em produto de qualidade e divulgado de forma apropriada.

Orçamento reforçado em 2005

"Só a proposta do Executivo para o orçamento do Ministério do Turismo para 2005 está 34% maior do que o deste ano. Propusemos R$ 228 milhões, sem contar com as emendas, para 2004 e R$ 308 milhões para o próximo ano. Isso quando a receita está aumentando 11% e a inflação é de 7%, o que demonstra o quanto o turismo é encarado pelo governo federal como prioridade.

Além desse orçamento, virão as emendas dos deputados, concentradas nas obras consideradas necessárias para o desenvolvimento do turismo pelas diversas unidades da federação".

Grande expansão da hotelaria"Estão confirmados para iniciar no próximo ano cerca de 140 novos empreendimentos entre hotéis e resorts, representando investimentos da ordem de R$ 3,011 bilhões, com expectativa de gerar 13.737 empregos diretos e 54.946 indiretos. O nicho explorado por esse levantamento feito pelo ministério corresponde a um quinto do mercado como um todo. Cerca de 4% desse montante está concentrado na região Norte, 40% vai para o Nordeste, 42% para o Sudeste, atraídos principalmente por São Paulo, mais 7% para o Centro-Oeste e 6% para o Sul ".

Cuidado com a infra-estrutura

"Como esse é um país de dimensões continentais, e nós não temos uma rede ferroviária capilarizada, o transporte de turistas se concentra nas rodovias e na aviação. O transporte aéreo, principalmente, deve ser massivo para alavancar o turismo, a aviação civil precisa crescer. Mas visto que a maioria dos turistas ainda seguem para destinos próximos do estado onde moram, fica claro que as rodovias têm um papel fundamental nesse negócio. O trabalho de recuperação da malha viária é um fator de extrema importância.

Estamos investindo uma barbaridade em aeroportos - a Infraero está injetando mais de R$ 3 milhões na melhoria deles. Estamos retomando as estradas turísticas. O presidente colocou como prioridade uma estrada turística das mais importantes que a BR-101. De Natal ao norte da Bahia, da Avenida Brasil até Mangaratiba, no Rio, e termina no sul do Brasil.

O Rio Grande do Sul tem uma rede boa de estradas, porque algumas são concedidas. O Paraná tem algumas, São Paulo tem uma rede extraordinária. O resto do Brasil está em pandarecos, porque não teve concessão. Agora, com dinheiro da Cide (Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico), teremos recursos para recuperar a malha rodoviária. Este plano até 2007, vamos fazer até 2015, para o Brasil. Vamos ter aqui 20 milhões de turistas estrangeiros até 2020".

Mais dinheiro para promoção

"Dos R$ 308 milhões previstos na proposta orçamentária, R$ 154 milhões serão destinados para promoção do `Destino Brasil¿, não só no exterior. Os R$ 154 milhões são do orçamento, mas tem um acordo com a Infraero de R$ 21 milhões. Então, estamos falando de um montante de R$ 175 milhões para essa divulgação. Desse total, R$ 125 milhões serão destinados à promoção internacional. Cerca de 70% da verba de promoção deste ano, que é de R$ 104 milhões, foram para a promoção internacional. Dinheiro do Tesouro, sem contar o que os estados investem, o que as empresas tem investido. É um volume de recursos maior do que já houve em qualquer ano.

Imagem do País é boa"A questão da imagem do País é pontual. O Brasil está na moda. A liderança do presidente Lula trouxe uma luz, os produtos exportados, a moda brasileira trouxeram uma luz. As top models brasileiras, a roupa brasileira, o esporte brasileiro, o jeito brasileiro. É comum ver a juventude européia com roupas verde-amarela, inclusive com Brasil escrito com Z".

Violência, problema de todos

"A violência tem impacto negativo. Mas os indicadores de chegada de turistas não mostram redução de viagens. A notícia do The Independent não é mentira.(N.R. - O jornal inglês publicou recentemente uma reportagem intitulada "Rio, cidade da cocaína e da carnificina".) Mas dizer que o Rio de Janeiro é lugar de chacina e cocaína serve também para Nova York, Paris, Londres, Washington, Miami, São Paulo, Bogotá, Buenos Aires.

Em todas essas cidades você vai ver chacinas e tráfico de drogas. Até os Estados Unidos, que tem a força policial de combate a droga, enfrenta esse problema. Fica parecendo que o Rio de Janeiro é um ponto fora da curva. É um ponto de uma curva triste de violência.

O Rio lidera disparado o ranking de destino do turismo internacional, com 38%. E 97% dos que vêm, afirmam que voltam, conforme pesquisa feita por duas universidades do Rio de Janeiro, junto com a Riotur e TurisRio.

O carioca é alegre, receptivo. Não é preparado, mas compensa o fato de não falar uma língua, de não ter certo nível de conhecimento, com o jeito agradável, charme, simpatia. Mas o turista reclama primeiro, da sinalização. Depois, do baixo nível de atendimento (falta de conhecimento). Em terceiro lugar, a exploração dos motoristas de táxi. Finalmente, com 8% das queixas, vem a segurança.

O governo federal não entende que esse problema seja estadual, municipal ou federal. É um problema nosso, contra o qual temos que lutar. Esse problema não pode tomar dimensão da que tem. Nem nós devemos jogá-lo embaixo do tapete para dizer que é pequeno. Não podemos é maquiar a segurança Se a segurança for boa para o morador, é boa para turista. Temos que promover uma imagem positiva do Rio de Janeiro em Nova York, Paris, Milão, Madrid, Londres, Lisboa, Frankfurt, e mostrar que o Rio não é o lugar mais violento do mundo, nem do Brasil, sob o ponto de vista das estatísticas".