Título: Novos negócios levam à maturidade
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Relatório - Investimento em turismo e Hotelaria, p. 1

Com 140 projetos em andamento, são aplicados mais de R$ 3 bilhões para a expansão da rede hoteleira. O tom de um certo amadorismo, da exaltação do samba, do futebol e da mulata costumeiro em antigas louvações do Brasil como destino turístico foi definitivamente banido. O jogo, agora, é para valer. Em qualquer segmento do setor quem não se profissionaliza, sai fora. A prova mais importante dessa virada está no mercado hoteleiro, que vem passando por uma profunda transformação. Nele muito já se investiu... e os aplicadores continuam chegando.

Os números são eloquëntes. Uma pesquisa recém-terminada pelo Ministério do Turismo em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) dá o exato tamanho do crescimento. Os números mostram que estão sendo investidos em 140 empreendimentos ¿ hotéis, flats e resorts ¿ mais de R$ 3 bilhões. A rede Accor é a bandeira que lidera o pelotão, pois administrará 43 daqueles projetos, que custarão R$ 568,9 milhões. Regionalmente, a região Sudeste aparece na frente: a ela será destinado R$ 1,3 bilhão; o Nordeste está encostado ¿ por receber as aplicações mais vultosas, os resorts ¿ com R$ 1,2 bilhão. Tudo isso significa que a rede nacional será acrescida de 25.562 apartamentos. Para atendê-los, serão criados 68.683 empregos diretos.

Por isso, não é por acaso que se prevê um futuro otimista para o turismo brasileiro. "O Boletim do Desempenho do Turismo trimestral da Fundação Getúlio Vargas, têm mostrado estimativas de crescimento de até 16% no setor. E todos tem afirmado que vão empregar", comemora o ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia.

Ele tem bons dados nas mãos. Por exemplo, o desembarques internacionais aumentaram 15,2% de janeiro a agosto deste ano. Segundo o Banco Central, 2003 foi recordista na entrada de dólares de turistas no País: US$ 1,55 bilhão entre janeiro e agosto. Agora, em 2004, entraram US$ 2,104 bilhões, 34,6% a mais. "Além do número maior, os turistas estão gastando mais", diz o ministro.

A importância que empresários e governos ¿ federal e estaduais ¿ dão ao turismo realmente pode ser vista em todos os cantos do País. No Ceará, por exemplo, o setor é um dado relevante na economia. Participa com 8,7% na formação do Produto Interno Bruto estadual e deve arrendondar tal participação para os 9% neste ano, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Régis Cavalcante Dias. A Secretaria de Turismo (Setur) trabalha com uma carteira de projetos ligados à atividade para execução nos próximos três anos que soma cerca de US$ 1,5 bilhão. "Observamos fluxo crescente de investimentos europeus", afirma o titular da pasta, Allan Aguiar. A direção desse dinheiro aponta para o litoral oeste e leste do Estado, servidas pelas rodovias do Sol Nascente e do Sol Poente.

Os maiores interessados em investir no Ceará são os portugueses. Nos cálculos do presidente da Câmara de Comércio Brasil Portugal no Ceará, Rômulo Alexandre haverá um aporte de US$ 500 milhões em empreendimentos no Estado, nos próximos três anos. Como exemplo, cita os projetos comandados por grupos como Oásis, Vila Galé, além do banco privado Português em consórcio com o empresário Ivens Dias Branco e outros investidores.

Esse crescimento pede contrapartida do estado em melhorias na infra-estrutura, até em Fortaleza, que tem problemas de limpeza e urbanização, diz o vice-diretor administrativo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), e presidente do Fortaleza Convention e Visitors Bureau (FCVB), Régis Medeiros. O secretário Aguiar diz que o Estado trabalha na solução dessas questões "pois o turismo gera cerca de 12% das vagas entre a população economicamente ativa e é um dos eixos de desenvolvimento do estado".

No outro extremo do território a disposição em incentivar o negócio do turismo também é crescente. Em Santa Catarina, os resultados conseguidos no último verão capitalizaram o setor. Segundo a Santa Catarina Turismo S/A (Santur) em janeiro/fevereiro estiveram no estado 2,59 milhões de turistas, que deixaram US$ 442,6 milhões ¿ um salto de 28% e 83% respectivamente em relação ao mesmo período do ano anterior.

Como o verão só acontece uma vez por ano, os catarinenses olham agora com interesse para o turismo de eventos. Nesse nicho, toda a região sul movimenta 25% do mercado nacional, estimado em R$ 37 bilhões. Do total de 345 mil eventos realizados por ano no País, calcula-se que 20%, ou 65 mil, ocorram na região.

O Paraná mira também em direção dos eventos. A estrutura está pronta: o número de hotéis em funcionamento em Curitiba não passava de 34 em 1980; cresceu para 76 na década seguinte e deve encerrar 2004 em 141 unidades entre flats e hotéis. Quinze novos hotéis - 12 deles de grandes bandeiras - serão inaugurados na cidade até 2005, com investimentos que chegam a R$ 100 milhões até 2005, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). Embora ainda seja dominado por empresas familiares (72% do total) o setor já abriga marcas internacionais de peso, como Sheraton, Accor e Blue Tree.

Brasília, com a reforma e ampliação da capacidade para nove mil lugares do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, obra do Governo do Distrito Federal, espera colocar-se em pé de igualdade com outras capitais brasileiras para disputar congressos de grande porte. A situação lá é peculiar: a ocupação média dos hotéis chega a 70% nos dias em que o Congresso funciona - de terça a quinta-feira - mas cai para entre 20% e 40% de sexta a segunda.

Abrigar eventos é realmente uma saída interessante. Mais que isso, é muito viável para o Brasil. Segundo os dados da International Congress & Convention Association (ICCA), o Brasil recebeu 62 encontros internacionais no ano passado, 10% acima do ano anterior e já coloca-se em 18ª lugar entre os 20 dos países que mais recebem eventos internacionais. Desde o ano passado, o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) tem uma gerência apenas para apoiar a captação de feiras, congressos e convenções para o Brasil. Neste ano, confirmou 26 encontros internacionais.