Título: Políticos jogam a culpa no sistema
Autor: Torres, Izabelle; Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2011, Política, p. 2

Parlamentares que foram indicados por seus partidos para compor comissões que tratam de temas de interesse de quem os financiou dizem que a culpa é do atual sistema eleitoral. Consenso entre eles é que qualquer insinuação sobre conflitos de interesses só será evitada se a proposta da reforma política conseguir aprovar o financiamento público das campanhas. Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), a necessidade de captar colaboradores com as campanhas faz com que sempre haja relação entre políticos e setores privados. ¿Sempre vai haver alguma proximidade nossa com alguns setores. Isso é eminente nas atuais regras eleitorais¿, diz.

O deputado mineiro Paulo Abi-ackel (PSDB) afirma que, se a distribuição de parlamentares pelas comissões temáticas tentasse evitar ligações com financiadores de campanhas interessados nos temas discutidos pelos colegiados, alguns deputados não teriam lugar. ¿No meu caso, por exemplo, sou ligado à mineração há anos. Recebi ajuda do setor. Mas recebi contribuições de muitos outros segmentos também. Se fosse para me colocar em algum lugar sem ligação com a campanha, eu não poderia ser de comissão nenhuma. Se o atual sistema prevê financiamentos privados e está dentro da lei, não vejo motivos para criticas¿, defende.

Na avaliação do peemedebista Saraiva Felipe (MG), somente depois de modificar as atuais regras, será possível evitar relações financeiras de setores que contribuem com campanhas políticas e a atuação parlamentar. ¿É difícil evitar que algum político fique em comissões em que possa haver interesse de quem doou para sua campanha. Por isso, temos defendido tanto o financiamento público. Somente assim será possível acabar com esse tipo de conflito¿, opina.

Na semana passada, a comissão da Reforma Política do Senado começou a montar o esboço das propostas que serão apresentadas ao plenário. O financiamento público, apesar de oficialmente ainda não estar em discussão, foi o item mais citado pelos parlamentares. Para viabilizar a aprovação da mudança referente às contribuições financeiras, os senadores alegaram que era necessário antes aprovar a lista fechada de candidatos na disputa proporcional. A matéria foi aprovada e o próximo passo será buscar acordo para votar o financiamento público de campanha. (IT)